São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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0800-Internet

MARIA ERCILIA
DA FOLHA ONLINE

O Free World Dial-up é um daqueles projetos que só podiam ter começado na Internet. Como muita coisa na rede, ainda é pequeno, mas é mundial. Os participantes do FWD são voluntários que cedem linhas telefônicas e espaço em computadores para um programa que telefona através da Internet.
A diferença entre o FWD e o Internet Phone, que já existe há um ano, é que o FWD possibilita ligações de computador para telefone e não só de computador para computador. É quase de graça mesmo! Dá para telefonar de qualquer servidor de FWD para qualquer lugar do mundo, sem pagar mais que o preço da conexão à Internet.
O FWD (http://www.pulver.com) começou numa lista de discussão mantida por Jeff Pulver para troca de dicas e idéias sobre o Iphone. Acompanhei a lista desde sua criação e vi o projeto tomar corpo aos poucos. Hoje são mais de 15 países. Existem dois voluntários brasileiros listados no projeto: Marcelo Digiacomo, de Florianópolis, e Ronaldo Carvalho, do Rio de Janeiro.
Os voluntários se responsabilizam por transferir ligações telefônicas da Internet para telefones em suas cidades.
Duas latas e um barbante
O FWD é apenas um laboratório de aplicação de uma tecnologia ainda bem crua. Quem já usou o Iphone (http://www.vocaltec.com) sabe que é uma versão digital da brincadeira de duas latas e um barbante.
Mas já começaram a aparecer iniciativas comerciais na cola do projeto. A Vocaltec, empresa de Israel que produz o Iphone, lançou este mês o Internet Telephony Gateway. O usuário desse sistema precisa ter um cartão Dialogic e usar o servidor da Vocaltec.
Ao contrário do FWD, que só permite ligações de computador para telefone, o projeto da Vocaltec, ainda em fase experimental, possibilita tanto a ligação de computador para telefone quanto vice-versa.
O anúncio da Vocaltec irritou a indústria de telefonia norte-americana. A ACTA (America's Carriers Telecommunication Association) entrou com uma petição junto ao governo para que regulamente a comunicação por voz na Internet.
Em resposta, o VON (Voice/Video on the Net - http://www.von.com), um grupo formado na Internet (também nascido na lista de discussão de Jeff Pulver) organizou uma coalizão (http://www.von.org) que pressiona o FCC (Federal Communications Commission) para que mantenha a telefonia na Internet livre de regulamentação.
Essa briga ainda vai engrossar muito; as empresas de telefonia não querem ceder suas margens de lucro altíssimas e seus monopólios regionais (nos EUA, as empresas de longa distância pagam taxas às empresas locais para completar suas ligações; as empresas de Internet não pagam nada). Mas dá para apostar que a queda nos preços de telecomunicações é apenas uma questão de tempo. Tomemos o exemplo do FWD: ele cobre tantos países que para ser interrompido precisaria de um acordo internacional de legislação. Hoje ele nem justificaria uma reação dessas, já que não dá um tostão de lucro e a quantidade de ligações que suporta é mínima. Mas basta um projeto do tipo do Gateway da Vocaltec decolar para a coisa mudar de figura.
A situação das empresas menores, locais, é pior que a das grandes, que já perceberam para onde o vento sopra. A AT&T lançou recentemente um serviço de acesso à Internet por uma taxa fixa de US$ 19,95 (mensal). A MCI e a Bell Atlantic vão oferecer serviços semelhantes a partir do mês que vem. Se a telefonia pela Internet pode no futuro abalar as companhias telefônicas, estas podem tomar a dianteira já hoje no mercado de acesso à Internet.
O e-mail de NetVox é netvox@folha.com.br

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