São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Romance faz trajeto da lama à redenção

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Clube dos Homens Bonitos", segundo livro do jornalista e escritor Marco Lacerda, não é um romance sobre dândis que se reúnem para beber uísque ou algo assim. É a história real de um jovem herdeiro que se tornou drag-queen e, depois, monge zen.
Pode ser também a história da contracultura, do movimento hippie nas ruas de San Francisco nos anos 60. Ou a trajetória de um homem que se descobre portador do vírus da Aids e não se desespera.
"Clube dos Homens Bonitos" é um título enganador para um livro que descreve um processo que vai "da lama à redenção", segundo seu autor. Lacerda, 43, conheceu todos os personagens envolvidos e "com 30% de ficção e 70% de realidade", disse, fez este romance.
O autor viveu em San Francisco, Califórnia, como correspondente. Viu nos jornais a história de um brasileiro assassinado e foi atrás. Dessa busca surgiu o livro, que Lacerda começou a escrever antes de "Favela High-Tech" (seu primeiro livro, publicado em 1993).
"Não me dei conta de que esta história era tão bizarra enquanto estava vivendo esses fatos. Só depois, com o tempo, quando pude olhar para trás", disse Lacerda que falou à Folha por telefone de Belo Horizonte, onde mora atualmente.
Sexo e drogas
Bruno é o personagem que amarra a história toda. Era um filhinho de papai em Belo Horizonte até fumar seu primeiro baseado. Isso era nos anos 60. Vai para San Francisco e cai de boca em Haight Street (a rua onde nasceram os ideais e porra-louquices dos hippies).
Começa a tomar todas as drogas e a trabalhar como travesti em boates (hoje pode ser chamado de drag-queen). Transa com todo mundo, toma heroína, ácido, pó, o que pintar. Vida de cão e divertida.
Conhece Teodoro e apaixona-se. A partir desse relacionamento sua vida dá uma guinada e o livro também: o passado dos dois está ligado de maneira trágica e misteriosa. Coisa de Nelson Rodrigues.
Atrás desse mistério correm o narrador, o personagem Teodoro e o leitor. O livro se estrutura como um thriller e Lacerda consegue manter a curiosidade do leitor até as últimas páginas.
História aterradora
Ao terminar o livro, o leitor vai certamente pensar que é aterrador o fato de a história ser verdadeira. "Quem viveu em Belo Horizonte nos anos 60 pode imaginar esse tipo de história", disse Lacerda.
O escritor conta que em determinado momento do livro pensou em parar de seguir os fatos e escrever o que bem entendesse. Mas acabou atendo-se à realidade.
Depois da denúncia do mundo das drogas e prostituição no Japão em "Favela High-Tech" e deste "Clube dos Homens Bonitos", Lacerda diz que vai deixar a realidade. "Meu próximo livro vai ser ficção pura. Acho que deve ser mais gostoso de fazer."

Livro: Clube dos Homens Bonitos
Autor: Marco Lacerda
Preço: R$ 17,80

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