São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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FHC elogia esforço de Sarney nas reformas

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso deu um sinal ao senador José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso, de que deseja colocar um fim nos atritos registrados nos últimos dias entre eles.
Em discurso no 1º Encontro Empresarial de Investimentos e Comércio Brasil-Chile, realizado ontem na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), FHC elogiou o desempenho de Sarney na condução da votação das reformas constitucionais.
O presidente da Câmara, deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), também foi citado por Fernando Henrique.
"Há aqui sinais claros de estabilidade política, porque se foi possível avançar nas reformas que avançamos foi porque a despeito de tudo e quaisquer intrigas que possam haver, o presidente da Câmara, o presidente do Senado e o presidente da República puseram os interesses do Brasil acima de quaisquer posições pessoais", disse.
Recentemente, Sarney e FHC entraram em conflito em razão da instalação da CPI dos Bancos. O senador articulou a criação da comissão de inquérito se contrapondo aos interesses do Palácio do Planalto, contrário à investigação.
Em seu discurso, o presidente ainda atacou os adversários das reformas constitucionais.
Na presença do presidente do Chile, Eduardo Frei Ruiz Tagle, e de cerca de 200 empresários dos dois países, FHC disse que os opositores não apresentam soluções alternativas a não ser aquelas "tão utópicas que se desmoralizam pela própria proposta".
Sob aplausos, afirmou que as mudanças, especialmente a previdenciária, a administrativa e a tributária, serão concluídas, apesar da oposição "utópica".
"Vamos enfrentá-la com democracia, ganhando hoje, perdendo amanhã, e voltando a ganhar, dentro do jogo democrático."
Vodca e tequila
O presidente espera que a economia brasileira repita o desempenho da economia chilena com um crescimento sustentado média de 7% a 8% por ano.
Para ele, a repetição da recuperação econômica do Chile no Brasil seria o "efeito pisco", uma referência à aguardente chilena de uva.
Para FHC, se enganou completamente quem apostou que o Brasil sofreria tanto o "efeito Orloff" (a repetição no país da recessão econômica registrada na Argentina), quanto o "efeito tequila" (referência à crise cambial mexicana).
"Tanto a vodca quanto a tequila são apreciadas por muita gente, mas muitas vezes dão dor de cabeça, mas torço para que aconteça no Brasil um 'efeito pisco', que tem um sabor especial pelo conhecimento que tenho do Chile."
Reação de Sarney
Em Brasília, o senador José Sarney reagiu friamente ao elogio feito a ele por Fernando Henrique. "É uma questão de justiça", disse.
O elogio ao senador foi interpretado por aliados do governo como o primeiro sinal de aproximação dado pelo presidente.
Quando a notícia do discurso de FHC chegou ao Senado, vários colegas cercaram Sarney para cumprimentá-lo. "O caminho é esse. A aproximação é um bom caminho", disse o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
O menos entusiasmado era Sarney. Disse que FHC "apenas repetiu" o que já disse outras vezes, ou seja, que o Congresso está contribuindo para a aprovação das reformas e dando a ele "instrumentos para garantir a governabilidade".

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