São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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Incidência de Aids cai 16% em Santos

AURELIANO BIANCARELLI; MARCUS FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cidade de SP que ocupou por muitos anos 1º lugar do ranking da doença tem queda no número de novos casos

Incidência de Aids cai 16% em Santos
AURELIANO BIANCARELLI
MARCUS FERNANDES
A cidade de Santos -que por muitos anos ocupou o primeiro lugar no ranking da Aids- está registrando o primeiro recuo na disparada da Aids no país. Segundo o programa de Aids da cidade, a incidência de novos casos da doença caiu 16,33 pontos percentuais entre 1994 e 1995.
No ano passado, foram registrados 81,44 novos doentes por 100 mil habitantes, número inferior ao de 1992, com 89,99. Em 1994, a taxa foi de 97,34 casos novos por 100 mil moradores.
"Ainda não dá para afirmar que a epidemia está recuando, mas a tendência dos últimos anos mostra uma estabilização", diz Vanderjacson Andrade, coordenador do programa de Aids de Santos. Nos últimos meses, a cidade passou para a Itajaí (SC) o título de campeã em incidência total de Aids.
Em São Paulo, o médico Paulo Roberto Teixeira, coordenador do programa estadual de Aids, ainda não vê motivos para comemorar. "É preciso analisar os números com prudência", afirma. A razão está na demora e confiabilidade da coleta dos dados. Alguns casos só são notificados anos depois. "Outro problema é a precariedade dos serviços de saúde", diz Teixeira. "É possível que muitos doentes estejam demorando para chegar aos serviços, outros nem chegam."
Santos, de todo modo, é reconhecida como um modelo em epidemiologia e trabalhos de prevenção à Aids.
Troca de seringas A cidade foi a primeira a tentar implantar, ainda em 1989, um primeiro programa de troca de seringas no país. O projeto foi barrado pela promotoria, mas os usuários de drogas injetáveis recebem hipoclorito de sódio para limpar suas seringas. Dos 2.421 casos notificados em Santos, 60% pegaram a doença por meio de ou durante o uso de drogas injetáveis.
No momento, existem 17 projetos de prevenção à Aids em andamento na cidade em parcerias com o Ministério da Saúde e instituições internacionais. Para uma cidade de 500 mil habitantes, é a maior concentração de projetos. São voltados para prostitutas, usuários de drogas, homossexuais, adolescentes e crianças de rua.
Marinheiros
Segundo a coordenação do programa, Santos tem o "caldo" de cultura ideal para o vírus se propagar rapidamente. Nas férias e feriados, a população da cidade dobra.
Santos é o maior porto da América Latina, com 22 mil trabalhadores fixos. Cerca de 5.000 marinheiros, de outros Estados e outros países, passam por ali diariamente.
Quatro mil caminhões carregam ou descarregam todo dia no porto. "São trabalhadores que se expõem mais ao sexo desprotegido e ao uso de drogas", diz Andrade. Dois grande projetos estão voltados apenas às prostitutas. Uma pesquisa na cidade mostrou que 60% dos "trabalhadores do sexo" usam drogas. Cerca de 2.500 mulheres estão cadastradas.

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