São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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Sistema antiblecaute é falho, diz especialista

LUCIA MARTINS

LUCIA MARTINS; FRANCISCO SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para físico, corte de energia poderia ter sido evitado se esquema de segurança previsse falhas humanas

FRANCISCO SANTOS
O sistema antiblecaute da usina de Furnas, que causou o desligamento de oito usinas e o corte de energia em quatro Estados por mais de 3 horas na manhã de anteontem, falhou.
Essa é a opinião de especialistas ouvidos pela reportagem da Folha. Segundo eles, mesmo tendo havido falha humana -motivo alegado por Furnas Centrais Elétricas-, o sistema de segurança deveria prever possíveis defeitos e ter evitado a propagação do problema.
Ontem, técnicos de Furnas começaram a procurar outras falhas que podem ter agravado o problema. Eles querem saber por que o sistema de proteção automática desligou toda a usina, em vez de ter desativado apenas uma parte dela.
"Mesmo que o blecaute tenha sido causado pela ineficiência de um técnico, não podemos isentar o resto do sistema da responsabilidade. O esquema de segurança tem que estar precavido para remediar possíveis falhas, humanas ou não", diz o diretor da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa.
Para o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), Luiz Fernando Bovolato, um operador pode interferir no sistema e provocar danos, mas isso é raro. "O treinamento desse pessoal é quase militar."
O coordenador do Núcleo de Planejamento Energético da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Sergio Bajay, também afirma que a probabilidade de ocorrer falha humana é muito pequena. "O problema pode ter sido aumentado por algum outro defeito."
O Grupo coordenador da Operação Interligada, órgão que gerencia as interligações no sistema elétrico Sul/Sudeste/Centro-Oeste, estava estudando ontem por que a saída da usina de Furnas causou uma reação em cadeia tão forte.
Segundo a Eletrobrás, no pico da queda no fornecimento, o Distrito Federal ficou totalmente sem luz e força. Minas, sem 80%, Goiás e Mato Grosso, sem 70%, e Tocantins, sem 30%.
O sistema de distribuição, que integra as redes de empresas federais, como Furnas e Light, com estaduais, como Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e Cemig (Companhia de Eletricidade de Minas Gerais), é projetado para que a saída de um elemento não altere o fornecimento de energia.
Embora ainda sem avaliação técnica fechada, técnicos de Furnas calculam que um dos fatores que teriam aumentado o problema seria o fato de as usinas no rio Paranaíba estarem operando em níveis baixos, por causa de falta de água.
Baixo nível de água poderia também ter sido o motivo para o desligamento da usina de Itumbiara, principal fonte de suprimento de Goiás, Mato Grosso, Brasília e de parte de Tocantins.

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