São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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Um Romário tinindo iria para a Olimpíada?

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, imaginemos um Romário no duro, tinindo, tinindo trincando, como diriam os velhos Novos Baianos. Nas condições ideais, ele deveria ser convocado para a Olimpíada?
Taí uma coisa que eu gostaria muuuuito de saber.
*
Estou devendo ao santista Alon Feuerwerker uma resposta sobre a questão da privatização (ou concessão para exploração pela iniciativa privada) de estádios públicos, como o Pacaembu.
Ele argumenta que o Morumbi é propriedade privada ("maior estádio particular do mundo", como foi divulgado), e, mesmo assim, sofreu um processo de deterioração.
Aparentemente, a ponderação de Feuerwerker está certa. Só que ela encobre uma questão, a meu ver, bem mais grave do que a crise dos estádios.
Não é verdade, no rigor dos fatos, que os clubes de futebol brasileiros sejam empresas privadas, que agem procurando obter o máximo de lucros com a menor das despesas.
A estrutura dos clubes -meio associações públicas, gozando inclusive de privilégios, meio entidades privadas- está longe de ser um exemplo de administração, justamente pela parcela de princípio de não-competência que todos sabem que existe na estrutura clubística.
É só, por exemplo, ver a maneira como a Parmalat pode administrar o Parma, na Itália, e maneira como ela tem que se associar ao Palmeiras daqui, para ver o quanto ainda falta para a racionalização administrativa do futebol na sambalândia -como diz o único americano torcedor do Barretos Bull's, David Zingg.
Aliás, também não é segredo para ninguém, grande parte das aberrações do futebol local nasce e cresce bem nutrida pela maneira desastrosa como os clubes são gerenciados -ineficiência, repito, que é incentivada pelos privilégios concedidos pela sociedade até agora.
O sistema de meio regime público, meio regime privado, criou esta aberração (do ponto de vista administrativo) que são as associações ou clubes esportivos no Brasil.
Tirando raros exemplos aqui e ali, os clubes vão (e irão necessariamente) mal gerencialmente. Clubes mal gerenciados, estádios mal explorados. E, assim, fecha-se o círculo vicioso do futebol brasileiro.
Portanto, não há como comparar o Morumbi, que resistiu (mal) a várias diretorias do São Paulo, com o que poderia ser o Pacaembu se gerido por uma empresa privada especializada em espetáculos e diversões, que pudesse investir na melhoria da qualidade de prestação de serviço (sistema de som, grande placar eletrônico, melhores sanitários e melhor infra-estrutura, melhor serviço de alimentação etc.) no belo Pacaembu.
Um Pacaembu nos trinques deixaria de ser o próprio da municipalidade, para se tornar prêmio para o munícipes.
Alon Feuerwerker argumenta também que, na Itália, existem alguns "comunales" que são exemplos de estádios bem administrados.
Ok. Lá a estrutura do futebol mais rico do mundo empurra qualquer coisa para a frente. Mas, sempre resta saber se eles não poderiam ser melhores explorados ainda.

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