São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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"Quem É Você" começa mal e sofre mudanças

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Quem É Você" começou mal. Saturada de diálogos malconstruídos e sequências previsíveis, a nova novela das seis da Rede Globo mostra que escrever um melodrama eletrônico convincente não é trivial. Por mais despretensioso que ele seja. A novela passa agora por reformulações. A tarefa não é fácil.
A trama de "Quem É Você" conta com todos os clichês que estruturam o folhetim. Gira em torno de intrigas familiares, pais desconhecidos, maridos adúlteros, filhas ingratas. Não falta a boa mãe, ingênua, sonhadora, frágil e traída.
Uma produtora de comerciais dá o toque moderno necessário à trama. Contrasta com a tradição da vinícola sulista. Personagens de todas as idades, núcleo rico e núcleo pobre, empregados, patrões e familiares garantem certa dinâmica social à novela.
Mas, apesar da presença de todos os ingredientes básicos do sucesso, em uma novela assinada por Ivani Ribeiro, uma das grandes mestras no gênero, o resultado é constrangedor.
Como na sequência em que Maria Luiza (Elizabeth Savalla) salva Cíntia (Luiza Thomé), acometida de pneumonia e febre alta. Chove terrivelmente, a estrada é ruim. A moça precisa de um hospital urgente.
Mas o suspense não se realiza. Os telespectadores acompanham a epopéia sabendo de antemão que, ao final de uma anunciada série de obstáculos e imprevistos, a boa esposa salvará a amante de seu marido (Alexandre Borges, em boa interpretação) em um verdadeiro show de dignidade.
A fragilidade dos diálogos viola as convenções da teledramaturgia. Sugere que, sem uma sutileza mínima, o jogo de máscaras, disfarces e travestis a que se propõe a história não funciona.
Talvez o clichê não seja para qualquer um. E, ao que parece, Solange de Castro Neves, ex-assistente de Ivani Ribeiro, não aprendeu muito com a telenovelista recentemente falecida.
Na tentativa de salvar a novela, a emissora acaba de substituir a roteirista, responsabilizando a equipe de supervisão por reformulações na história e pelo texto daqui por diante.
Lauro César Muniz, conhecido por suas novelas históricas com preocupações sociais, coordena o grupo formado também por Aimar Labaki e Rosane Lima, estreantes com experiência no teatro e no vídeo alternativo. Resta conferir o resultado dessa "mélange" mais que heterodoxa.

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