São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
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Lei obriga construções com pedra branca

ARTHUR NESTROVSKI
DO ENVIADO ESPECIAL

Judeus, romanos, muçulmanos, cruzados, mamelucos, otomanos, ingleses, judeus e palestinos: são dez palavras para 3.000 anos de história em Jerusalém.
Foi essa cidade a imagem fantástica de esperança do povo judeu, devotado a um encontro "no ano que vem em Jerusalém".
Desde 1967 integrada, sem divisões, ao Estado de Israel e tida por todos -exceto os diplomatas estrangeiros- como a verdadeira capital do país, abriga hoje cerca de 600 mil habitantes.
Toda a cidade é construída em pedra branca, obrigatória por lei. Novos condomínios se espalham sem contraste pelas colinas; como se, para todos os efeitos, não houvesse muita distância no tempo entre o rei Salomão e os seus herdeiros Rabin, Peres e Arafat.
No centro fica a Cidade Antiga, limitada pelas muralhas de Suleyman, o Magnífico. Construídas entre 1520 e 1566, com 5.500 m de extensão e 18 m de altura, as muralhas, como quase tudo em Israel, estão sobrepostas a alguma outra coisa ainda mais antiga: no caso, as fundações medievais, elas mesmas construídas sobre as ruínas da muralha de Herodes.
Bairros
A Cidade Antiga divide-se em quatro bairros: armênio, judeu, muçulmano e cristão, uma ordem que se preserva desde o ano 135.
Todos os quadrantes levam ao Monte Moriah, onde Salomão erigiu, Nabucodonozor destruiu, Herodes reconstruiu e Tito queimou de novo o Templo dos Judeus.
Só o que resta do templo é o Muro das Lamentações, uma sinagoga a céu aberto desde 1967, mas onde os judeus vêm rezar, de um jeito ou de outro, há 2.000 anos. Jerusalém "chora amargamente durante a noite e as suas lágrimas correm pelas faces" (Lamentações de Jeremias) -como o orvalho que cobre o muro ao amanhecer.
Além do muro fica o monte Moriah -Haram-el-Sharif (Santuário Nobre) para os muçulmanos- onde Abrahão levou seu filho Isaac para o sacrifício, no gesto que inaugura o monoteísmo.
A rocha do sacrifício, o mesmo lugar de onde o profeta Maomé ascendeu aos céus, fica no interior do grande Domo da Rocha, concluído sob ordens do califa Omar em 692.
Judeus hassídicos transitam pelas vielas, levando filhos para a "yeshiva", de onde se escutam melodias milenares, na boca de crianças de quatro anos.
Jesus
Construído no século 5º, o Cardo é hoje uma rua de comércio. O arco final conduz ao movimentado Mercado Árabe -onde se pode percorrer, entre as centenas de pequenas lojas, a via sacra de Jesus.
No bairro cristão, está a basílica do Santo Sepulcro, no Gólgota, construída no ano 326. Foi Carlos Magno quem fez o abrigo de peregrinos, ao sul da basílica. Deixando a Cidade Antiga, o peregrino turista pode visitar o monte das Oliveiras e o jardim de Getsemane.
No quadrante armênio, fica o Convento Ortodoxo Sírio, onde os serviços, até hoje, são em aramaico, uma língua que se escuta aqui e ali pelas redondezas.
Jerusalém, Yerushalaym, Al Quds (A Sagrada) é a encarnação de sonhos messiânicos, o centro do mundo, mencionado 656 vezes na Torá e 140 no Novo Testamento; é o Trono de Alá no Alcorão.
Nossa cultura é filha desses livros e dessa cidade. Não é um lugar para se conhecer só com os olhos e a planta do pé. A viagem começa antes e não tem dia para acabar: Jerusalém é uma cidade da inteligência e do coração, a que se retorna sempre, ou no ano que vem.
(AN)

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