São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Programação da Globo adota crônica de domingo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Globo finalmente inicia 96. Procura se impor frente à concorrência com mudanças na programação. Na ofensiva, apresentou sábado à noite uma longa avant-première dirigida por Boni. Daniel Filho aparece com força. Mudança e repetição se alternam em um equilíbrio difícil.
O domingo é assunto especialmente estratégico, pois é quando o SBT de Silvio Santos e Gugu Liberato mais ameaçam.
Costumes estão em alta, na comédia, reportagem e crônica. "Sai de Baixo", uma re-criação de sucessos do passado, com grande elenco e direção de Daniel Filho tem interesse quase arqueológico. É uma "Família Trapo" atualizada e com encanto nas referências humorísticas a programas e personagens da própria emissora.
Os destaques da noite apareceram no "Fantástico". O programa procura adotar um tom mais picante, contando inclusive com dois apresentadores negros (Norton Nascimento e Isabel Fillardis).
O ponto alto foi a reportagem com o escritor Salman Rushdie a Pedro Bial. Editada e ilustrada de maneira primorosa, a entrevista deixa entrever a qualidade que se pode alcançar em programas dirigidos a grandes audiências.
O experimento de adaptação de "A Vida Como Ela É", outra produção do "núcleo Daniel Filho" também é bem-vindo. Filmado em 35mm, os curtas de cerca de 10 minutos poderiam ter seu horário divulgado para que telespectadores interessados pudessem assisti-los independente do resto.
No geral, o "show da vida" ainda se perde em pautas mornas narradas com excesso de explicação em off. O quadro "charada musical" é o exemplo mais extremado de um tipo de procedimento que explora pouco as articulações de som e imagem. Uma sequência de "imagens significativas" sobre a vida de Tom Jobim, editadas mais ou menos ao caso e apresentadas no início, são repetidas e explicadas ao longo do programa.
A nova versão do 'Fantástico tem tom 'culturinha' que procura alinhavar os assuntos da pauta com testes de múltipla escolha que anunciam o próximo assunto. A preocupação excessiva com a amarração redunda em ganchos forçados do tipo "O 'Quatrilho' não ganhou o Oscar, mas pelo menos não tem pena de morte", que abriu a reportagem sobre a freira que inspirou o filme "Dead Man Walking" (Oscar de melhor atriz).
As hesitações entre mudança e conservação apareceram no anúncio do prêmio de consolação a Cid Moreira, que abre diariamente a programação da emissora com uma mensagem ecumênica de fé.

Texto Anterior: "Coração Valente" traz erros históricos
Próximo Texto: Império contra-ataca
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.