São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Alga pode ter causado morte em Caruaru

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

A pesquisadora Sandra Azevedo, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), encontrou em amostras do filtro de água utilizado no Instituto de Doenças Renais de Caruaru (130 km de Recife, PE) uma toxina capaz de gerar os mesmos efeitos que causaram a morte de dezenas de pacientes da clínica.
Desde o dia 20 de fevereiro, 34 pacientes que se submeteram a hemodiálise (filtragem do sangue) no instituto em Caruaru já morreram. O número de contaminados era avaliado em 126.
O material examinado era o utilizado pela clínica na época da contaminação, em fevereiro. A mesma toxina foi detectada por Sandra em amostra de água por ela recolhida, quinta-feira passada, na estação de tratamento que abastece Caruaru.
Coordenadora do curso de pós-graduação em Química de Produtos Naturais da UFRJ, Sandra afirmou haver "sérios indícios" de que a toxina -a microcistina-LR- tenha causado as mortes. Eles teriam morrido de hepatite tóxica.
Sandra foi a Caruaru recolher material para análise depois de um contato com a Secretaria de Saúde de Pernambuco.
A microcistina-LR é, segundo ela, a mais conhecida das toxinas que podem existir em cianobactérias (algas azuis). Essas algas costumam aparecer em lagos e reservatórios de água.
A contaminação dos pacientes pode ter ocorrido pela utilização de água com microcistina-LR na hemodiálise.
Segundo Sandra, o maior especialista em algas azuis, Wayne Carmichael, da Wrigth State University, de Ohio (EUA), se dispôs a fazer exames complementares que poderão confirmar a hipótese de que as mortes tenham sido causadas pela microcistina-LR.
Esses exames, de acordo com Sandra, devem ser feitos em amostras de sangue e fígado de pessoas que morreram após terem sido submetidas ao tratamento no IDR.
Segundo Sandra, filtros de carvão ativado como o que estava instalado no IDR são capazes de reter a microcistina-LR caso sejam "trocados e mantidos" de forma adequada.
Ela afirmou que a quantidade de material orgânico que havia nas amostras do IDR permite avaliar que o filtro estava "saturado", incapaz de purificar a água.
Sandra afirmou que a toxina faz "murchar" as células do fígado (hepatócitos).

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