São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Ainda sobre a importância dos números no fut

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, quando esta Folha, por meio do trabalho do Datafolha, iniciou, há dez anos, o levantamento estatístico dos jogos da Copa do México, foi bastante criticada pelo conservadorismo da imprensa esportiva, que dava o tom naquele momento.
O argumento, batido e surrado, era o de sempre: futebol é genético (ou se nasce sabendo, ou não se joga), futebol é imprevisível, mais vale um gol do que mil teorias etc.
Evidentemente, no futebol, não dá para trocar o craque e a iluminação pela estatística.
Mas, também, não existe lei na natureza que proíba que a estatística e os números sejam usados em favor do talento e da melhoria geral do esporte.
Aos poucos, a compreensão da importância dos números no futebol foi assimilada.
Moraci Sant'Anna e o seu notebook, auxiliando o trabalho do grande São Paulo de Telê Santana, por exemplo, contribuiu muito para a incorporação dos números na análise do desempenho dos jogadores (gosto sempre de lembrar que aquele time chegou a trocar mais de 17 passes por minuto de bola corrida, com aproveitamento de 85% -um grande índice de eficiência).
A difusão do uso dos computadores também contribuiu bastante para a assimilação da estatística na análise do futebol -de resto, hoje, praticamente obrigatória.
Pois bem, digo tudo isso para mostrar que os números tiveram grande contribuição para a melhoria do futebol -em termos de ofensividade e em termos de números de gols assinalados- que estamos assistindo neste momento, especialmente no Paulista-96.
Em primeiro lugar, foi decisivo para o mundo inteiro a adoção dos três pontos por vitória. O empate -um resultado anômalo em termos de competição- passou a ser desestimulado e desprezado.
Veja bem o que ocorreu, felizmente: no primeiro turno, dos 120 jogos, só tivemos 4, eu repito, 4, empates sem gols. Se empate em zero a zero não contasse nenhum ponto para os dois times, teríamos um número menor ainda desses resultados.
Resultados, em futebol, podem ser -em média e em frequências constantes- programados através de mudanças que estimulem os times a perseguirem este ou aquele objetivo pré-estabelecido pelo mundo racional dos números.
Em segundo lugar, o aumento do tempo de bola em jogo, que também permitiu o aumento no número de gols. E como se chegou até ele?
Por meio das estatísticas que mostravam o tempo de bola parada e as causas -também comprovadas pelos números. Além de apressar a reposição e de aumentar o número de bolas extras para reposição automática, a punição mais rigorosa com os cartões amarelos e vermelhos diminuiu o número de faltas, abrindo mais tempo para a bola rolar linda, leve e gostosa.
Viva os números, portanto.

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