São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Leone filma a derrota

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Convém ir para a cama e pôr para gravar em velocidade lenta: "Era uma Vez na América" começa às 4h no Telecine e dura a bagatela de 3h40.
Tudo isso para Sergio Leone, o mestre dos faroestes italianos, contar a história de um perdedor.
Seria abusivo, caso esse perdedor não fosse Robert De Niro, caso essa trajetória de dois gângsteres judeus da infância à velhice não contivesse uma visão originalíssima do submundo (a começar que são gângsteres judeus, o que se vê raramente no cinema).
Leone fez, na verdade, um drama melancólico, disfarçado de épico. E um drama bem mais sobre a América do que se poderia supor: é a obsessão pela vitória, pela diferença entre ser ou não um "winner" que ocupa cada segundo da vida dos personagens, de comparsas como De Niro e James Woods.
E a verdadeira derrota talvez não consista em ficar ou não com glória, riqueza, casarões etc. E sim no afastamento, no incontornável afastamento que a vida impõe aos seres. Nesse último e sentimental sentido, "Era uma Vez na América" é o mais italiano dos filmes.
(IA)

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