São Paulo, quinta-feira, 4 de abril de 1996
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Capitalismo de araque

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Esse episódio da liberação dos preços dos combustíveis é emblemático sob vários aspectos. O principal é revelar como é de araque o capitalismo brasileiro.
Tem sido comum ouvir pessoas malhando os postos de gasolina. Principalmente a classe média -é claro, os que usam automóvel. Como se a culpa fosse dos donos de postos.
Quem é que não deseja ter lucro? Se você tem um litro de gasolina e alguém se dispuser a pagar R$ 100 por ele, você vende? Qual o objetivo principal do livre mercado? O que obriga as pessoas a comprarem gasolina nos postos que cobram mais caro?
Para completar, os aumentos de combustíveis foram díspares em todo o país. Houve cartelização, mas não foi -aparentemente- a regra geral. Exceto em casos de cartelização -como em Brasília-, não há outra saída que não seja deixar o mercado regular o preço do combustível.
Se o mercado é ou não suficiente para regular os preços, isso é uma outra história. O Brasil também pode abdicar de ser uma sociedade de livre mercado. É uma opção. O fato é que o governo disse que ia liberar. E ficou com medo do resultado.
Por que ficou com medo? Porque uma legião de incompetentes ocupa as cadeiras de vários gabinetes da equipe econômica. A começar pelo secretário de Acompanhamento Econômico, Luiz Paulo Vellozo Lucas.
Tudo o que Lucas não faz é acompanhar a economia. De outra forma, teria previsto que os postos dariam aumentos maiores que 10%. Errou. Na iniciativa privada, seria despedido. Prestaria melhor serviço se sugerisse ao presidente acabar com a lei que permite ao Confaz ser o maior cartel do país. Os 26 Estados e o Distrito Federal decidiram, no Confaz, aumentar em 4% o ICMS sobre combustível.
Sobre o Confaz, ninguém fala. Por isso este país fica sempre na pré-história do capitalismo. Ainda que FHC queira professar tanta modernidade em seu governo.

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