São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Relator dificulta processo por sonegação

MARTA SALOMON

MARTA SALOMON; JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Mussa Demes (PFL) retirou do projeto original do governo a quebra do sigilo bancário

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Ninguém poderá ser processado penalmente por sonegação enquanto a Receita Federal não tiver encerrado seu processo administrativo-tributário contra o acusado. A proibição consta do parecer do relator da reforma tributária na comissão especial, deputado Mussa Demes (PFL-PI).
Se o texto for aprovado, a Constituição garantirá um prazo quase indefinido no qual acusados de sonegação não terão que responder à Justiça por seus supostos crimes.
O parágrafo 2º do artigo 145, que trata do tema, não constava da emenda constitucional enviada pelo governo. É obra do deputado.
Sigilo Também a quebra do sigilo bancário proposta pelo governo para combater a sonegação de impostos desaparece na nova versão da reforma tributária do relator.
Outras três tentativas feitas pelo governo para assegurar um acesso maior às informações bancárias dos contribuintes -ainda que subordinadas a autorização prévia da Justiça- foram recusadas pelo Congresso desde o início da gestão Fernando Henrique Cardoso.
Mussa Demes alega uma razão jurídica para suprimir a possibilidade de quebra do sigilo fiscal. Diz que uma matéria recusada não pode ser votada no mesmo ano.
A quebra do sigilo bancário foi recusada uma vez, no começo do mandato de FHC, que quis incluir a proposta no conjunto da reforma da Previdência.
A proposta de reforma tributária que a Câmara deve começar a ser votada até o fim do mês, quase nove meses depois de encaminhada pelo Planalto. "Não será uma reforma, mas uma alteração" no sistema de impostos, avalia o relator.
Entre as mudanças que promoveu na "reforma" do governo, Mussa Demes tratou de garantir dinheiro para financiar a conservação e a restauração de rodovias.
Seu projeto prevê a criação de um Fundo Rodoviário com recursos arrecadados sobre a venda de combustíveis pelo novo imposto federal, nos moldes do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que o governo pretende criar em 1998.
"O dinheiro no Orçamento não é suficiente", afirma o relator. Em 95, o ministério que mais investiu foi o dos Transportes. A maior parte do dinheiro foi para conservação e recuperação de estradas.
Estados O relator da reforma tributária também modificou a proposta original do governo para evitar que os Estados perdessem com as mudanças no sistema fiscal.
O relator calculou perdas de R$ 3 bilhões caso a emenda do governo fosse mantida intacta.
A equipe econômica reconhece apenas a metade dessa perda, como consequência do fim da cobrança do ICMS sobre a exportação de produtos ou sobre a compra de bens usados na produção.
O ressarcimento aos Estados por essas perdas, planejado para durar três anos na versão do governo, se estenderá por oito anos, no projeto do deputado do PFL.
A maior preocupação do governo ao propor a reforma tributária foi eliminar a cobrança de impostos sobre as exportações. A proposta foi mantida até aqui.
O relator da reforma tributária também eliminou dispositivos que acabavam com a guerra fiscal entre Estados. Suprimiu, por exemplo, inciso que vedava aos governos estaduais financiarem o pagamento de ICMS.

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