São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Ai, que saudade que eu tenho da inflação!

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O leitor assíduo bem sabe que esta coluna tem um índice de acerto de previsões de deixar a mãe Dinah no chinelo.
Pois hoje, mãe Barbara irá acertar na mosca mais uma vez. Sugiro que você recorte e guarde esta coluna durante um ano e só a releia no dia 5 de abril do ano que vem.
Tudo bem? Então vamos lá: digamos que hoje é o dia 5 de abril de 1997. Veja a manchete da Folha de hoje: "Fipe anuncia que inflação de abril deve chegar a 5%".
Em seguida, Salete Lemos informa: "Pois é, Boris, além de ter havido aumento nas exportações, podemos também comemorar o fato de que o desemprego na Grande São Paulo voltou a cair".
Mais tarde, no "Jornal Nacional", Lilian Witte Fibe anuncia que "a economia deve crescer cerca de 4,5% este ano". E continua: "Apesar das projeções da Fipe de que o índice da inflação do mês de abril deva chegar à casa dos 5%, o maior já registrado desde a implantação do Plano Real, a taxa de inadimplência caiu. E deve continuar a cair, se prevalecer a tendência de os juros seguirem baixando, como vem ocorrendo nos últimos tempos".
Na mesma noite, o correspondente da CNN em Buenos Aires, que tem -de verdade- o emblemático nome de Rolando Grana, vai ao ar no "Noticiero CNN Internacional" para informar que, na Argentina, a inflação continua baixa, mas que, naquele dia, todos os sindicatos do país se reuniram em passeata para protestar contra o desemprego. Grana menciona "en passant", a briga ocorrida naquela manhã entre o presidente Menem e o ministro Cavallo.
No "Jornal da Globo", Mônica Waldvogel anuncia que, em jantar com aliados do PFL, Fernando Henrique comemorou a aprovação da emenda que possibilita a reeleição e depois fez um discurso para explicar porque o governo ainda não passou nenhuma reforma. Em seguida, a apresentadora informa que a Rússia acaba de lançar um plano nos moldes do Real. E termina o jornal, anunciando que, em Caruaru, ocorreu a milésima morte causada pela hemodiálise assassina. E que o ministro Jatene ainda não deu as caras por lá.

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