São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Filantropia, ONGs e o preconceito

ANAMARIA SCHINDLER

A palavra filantropia vem ocupando um espaço crescente na sociedade brasileira, incluindo indistintamente um número grande de empresas, ONGs e organizações sem fins lucrativos que desenvolvem projetos sociais ao mesmo tempo que filantrópicos. A participação do setor empresarial na filantropia brasileira suscitou um debate novo, impensável nos tempos em que isso era assunto de igreja. Em sua face contemporânea, tal debate é carregado de preconceitos e más definições.
Se no passado este termo se associava unicamente à prática de ações religiosas, caritativas e benemerentes, no presente se quer atualizar com a idéia de co-responsabilidade da sociedade civil com os problemas sociais.
De um lado as empresas se enaltecem com seus projetos de filantropia, de outro as ONGs resistem à sua identificação enquanto instituições filantrópicas, em decorrência da associação histórica entre filantropia, caridade e assistencialismo. A idéia de caridade é vista negativamente pelas organizações surgidas ao longo das últimas décadas que não querem ver seus projetos associados à ela. Cria-se assim um campo minado onde aquilo que interessaria -a prática de ações voltadas para o bem estar da sociedade em que vivemos- acaba sendo presa da armadilha dos discursos divergentes.
O discurso sobre as práticas contemporâneas de filantropia, revisto e ampliado, não se pauta exclusivamente na noção religiosa de caridade, ainda que esta seja sua origem. A filantropia hoje envolve sim a participação de diferentes organizações, são mais de 14.000 entidades no país inteiro, institutos e fundações, além de cidadãos e voluntários, caracterizada pelo engajamento com as questões sociais de nossa sociedade.
Um exemplo da atual atuação de empresas é a participação destas no concurso anual promovido pela Câmara Americana de Comércio, que oferece um prêmio para o melhor desempenho filantrópico. São mais de 500 empresas que participaram da concorrência desde 1982.
A solidariedade é o princípio político que unifica tais iniciativas, largamente utilizado pelos meios de comunicação para a mobilização coletiva. Sob a idéia de solidariedade, as ações filantrópicas surgem como uma alternativa para a ineficiência dos serviços de responsabilidade do Estado, ao mesmo tempo como prática de cidadania, ou então como ajuda ao outro. O preconceito que ronda a associação da filantropia com a idéia de caridade gera um discurso imobilizador de novas ações.

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