São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Operação da PM causa morte de mulher

ALEX RIBEIRO
PAULO SILVA PINTO

ALEX RIBEIRO; PAULO SILVA PINTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma estudante de 24 anos foi atingida por uma bala durante o tiroteio da polícia com os fugitivos

A operação comandada pela PM do Distrito Federal fez uma vítima fatal: Carolina Cardoso de Andrade, 24, foi atingida por um tiro no braço e peito e morreu na barreira policial. Um amigo que viajava com ela foi atingido no tórax.
Um dos soldados envolvidos na operação disse à Folha que atirou por ordem do coronel Paulo César, da Polícia Militar do Distrito Federal. Disse ainda que ele próprio fez cinco disparos contra o carro da estudante. Os fugitivos também atiraram contra a polícia.
A Polícia Civil do DF já abriu inquérito para apurar de onde partiram as balas que atingiram os estudantes: se dos policiais ou dos foragidos, durante o tiroteio na barreira. O carro em que estavam os fugitivos não levava refém.
A reportagem da Folha presenciou os disparos. O Uno de Carolina andava cerca de 3 m à frente do Verona em que iam os fugitivos.
Os carros haviam passado pelo cerco da polícia, 100 m atrás, sem reduzir a velocidade.
Cerca de 50 policiais abriram fogo contra os veículos. O Uno andou alguns metros e parou junto ao acostamento.
O Verona, depois de bater na traseira do carro de Carolina, entrou em uma pista de terra e andou cerca de 150 m, até parar junto a uma cerca de arame farpado. Os presos fugiram a pé. Dois policiais ficaram feridos na operação.
O comandante-geral da Polícia Militar da DF, coronel Túlio Cabral, negou ontem que os policiais tenha propositalmente atirado contra o Uno.
Túlio Cabral disse que os oficiais que comandaram as barreiras foram orientados a só atirar para se defender. "Isso não procede. Eu acabei de falar com o coronel Paulo César. Ele seria incapaz (de determinar os disparos)".
Estudante
Carolina saiu de Marília (SP) às 15h30, cerca de três horas antes de os presos e reféns deixarem o presídio. Estava acompanhada da mãe e do colega Célio Pedrazzi, 25.
Célio e Carolina se conheciam pouco. "Nós não tínhamos intimidade". Os dois só souberam da fuga dos presos da Cepaigo quando estavam perto do DF.
"Ouvi tiro de todo lado. Me abaixei e gritei: 'Abaixa, Carolina', mas, quando olhei, ela já estava inconsciente", conta Célio.
Carolina foi atingida por um tiro, que varou seu braço esquerdo e se alojou no peito. Célio foi atingido no lado direito do tórax.
Carolina estava no segundo ano de veterinária da Unimar (Universidade de Marília). Ia encontrar o namorado em Guará (DF).
O sargento Nelson Ramos, que levou um tiro no joelho, ouviu o aviso, por rádio, de que um carro invadiria a barreira em alta velocidade. "Eles (os fugitivos) entraram de farol alto, atirando."
Tática
Depois da libertação do desembargador Homero Sabino de Freitas, às 21h30 do dia anterior, a PM estava confiante na tática de libertar os reféns à força. Nessa operação houve vários tiros, mas Freitas saiu praticamente ileso. Foram presos seis fugitivos.
"Usamos o efeito surpresa. Os fugitivos não esperavam nosso ataque e ficaram sem saber como reagir. É mais ou menos o que ocorre quando um cidadão é assaltado", afirmara o major Pires, pouco antes da interceptação do carro da estudante.
A pressa em capturar os fugitivos e apresentá-los à imprensa fez a PM apresentar um morador da região -identificado apenas como Verício- como um dos ocupantes do Verona. Verício chegou a ser apresentado às câmeras como um detento caçado no mato.

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