São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Presidente do TJ diz que depõe em favor de Pareja

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

O ocupante do mais alto posto do Judiciário de Goiânia, Homero Sabino de Freitas, 66, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, disse ontem, após ficar sete dias em poder dos rebelados, que dá "absolvição total" para o líder da rebelião, Leonardo Pareja, e "nota 10" para os outros criminosos.
Sabino falou a Folha na tarde de ontem em sua casa, antes de receber a visita do governador do Estado, Maguito Vilela (PMDB).
Depois de elogiar os amotinados, o desembargador criticou duramente o ex-diretor do Cepagio, o coronel Nicola Limongi. Para Sabino, o coronel foi "irresponsável" ao não preparar um esquema de segurança para impedir a rebelião durante a vistoria no presídio.
"Abrirei um processo para apurar as responsabilidades pelo que passamos lá dentro. Creio que o responsável foi o Limongi", disse.
Limongi se defende dizendo que os amotinados haviam sido deixados fora das celas por um agente penitenciário sem sua autorização.
Segundo o desembargador, os reféns foram salvos pela "boa índole de criminosos".
Sabino contou que foi muito bem tratado. "Nenhum deles tocou em fio de cabelo nosso, eu daria nota 10 para o pior criminoso".
A relação entre o desembargador, seu filho Aldo, 25, e Pareja foi próxima durante a rebelião. "Eu sei que devo a minha vida ao Pareja. Se ele não assumisse as negociações com calma e competência aconteceria o pior".
O presidente do TJ se ofereceu a Pareja como testemunha de defesa caso ele venha a ser processado por liderar a rebelião.
Na avaliação de Sabino, Pareja "quer se reabilitar". Ele chegou a dizer ao assaltante que ele deveria "parar de exercer sua vontade de aparecer com o crime", e passasse a aproveitar o "carisma de líder".
A admiração de Sabino por Pareja chegou ao ponto de ele confiar a vida do filho ao assaltante. "Havia um acordo para que eu e meu filho fôssemos levados no mesmo carro, mas o Pareja pediu para levá-lo e eu aceitei. Meu filho virou um fã incondicional dele."
Sobre os outros rebelados, Sabino também não tem reclamações. "Todo o restinho de amor e afeto que resta no coração desses presos eles dedicaram a nós."
Negociação
O desembargador criticou a comissão que negociou a fuga dos presos. "Eles não deixavam a comida chegar a nós e cortaram a água e a luz do presídio", lembra.
O desembargador conta que teve certeza de que iria morrer quando o carro em que estava foi cercado pela polícia. "Quando vi aquele monte de policiais na estrada, falei: 'tô morto"'.
Na hora do cerco, Sabino diz que os amotinados pediram para ele gritar que era refém. "Eu disse que gritava, mas pedi para eles não me matarem e eles disseram que não iam atirar em hipótese nenhuma", lembra, completando: "O cerco foi uma irresponsabilidade. O acordo era de que não haveria perseguição até 10 h depois da fuga, e só tinham passado 3 horas."

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