São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
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Arbitragem séria passa pela profissionalização

RENATO DUPRAT FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Inquestionável é a evolução do futebol. Os avanços tecnológicos, o desenvolvimento da ciência, o descobrimento cada vez maior da capacidade humana de gerar resultados atingiram diretamente o maior espetáculo popular do mundo.
A evolução atropelou as leis do jogo e despertou os "velhinhos" conservadores da International Board. Nunca as regras mudaram tão amiúde.
Os números do Campeonato Paulista estão aí para confirmar. Entretanto, nem tudo nos parece coerente, pois se, de um lado, houve o despertar, e, do outro -técnico e jogadores-, o aprimoramento, ficou pelo meio e esquecida quiçá a figura de maior relevância do espetáculo, o árbitro de futebol.
Explicando, digo que não vejo em curto espaço de tempo e não vi em nenhum momento do passado estruturas sólidas e estratégias de ação para guindar o árbitro ao estágio da evolução atual do futebol.
Se algum mérito existe -e até acredito que haja-, este deve ser tributo exclusivo à dedicação individual de cada árbitro, que, num processo isolado e de total ignorância pública, submete sua vida a uma tarefa de resignação e renúncia, fazendo de sua atividade um falso momento de profissionalismo irracional, para alcançar quase desestruturado o direito de ser o "todo-poderoso" em 90 minutos, minutos estes que o consagram ou o atiram no abismo logo no imediato segundo ao término do jogo.
Isto me parece muito mais uma brincadeira de mau gosto do que a realidade necessária para se exercer uma atividade de tamanha responsabilidade.
Se o futebol é sério, a arbitragem também tem que ser séria.
Há que buscar as mesmas condições de trabalho e oportunidades aos homens de preto, que passam, sem dúvida, pela profissionalização do sistema de arbitragem, para que trabalhem com dignidade, segurança e muita competência.
Uma profissionalização que nada tem a ver com a "geração de vínculos empregatícios" destes com suas entidades desportivas. Mas uma profissionalização que lhes garanta o direito de serem autônomos, com tempo maior para o aprimoramento técnico e físico.
Tendo que trabalhar com um sistema tão fragilizado estruturalmente, surge a idéia de um debate com árbitros, imprensa, comissão de árbitros, sindicatos de classe, treinadores e diretores de clubes.
O problema tinha que ser discutido de forma ampla e profunda, pois a idéia de motivarmos os árbitros associada a incentivo com premiação me pareceu, neste curto tempo à testa da Comissão de Arbitragem, muito modesta mediante a grandeza do problema.
Um trabalho mais abrangente e definitivo se exigia, e, para isto, demos ontem o "pontapé inicial" do aprimoramento do sistema de arbitragem.
Mesmo assim, sabemos que os erros continuarão, pois a tecnologia da TV avança mais rapidamente que a capacidade de correção de falhas do árbitro, enquanto este for obrigado a agir como simples ser humano, sem ajuda eletrônica. Cabe à Comissão exercer um trabalho competente e transparente, pois no aflorar de divergências e na geração das polêmicas encontramos caminho muito mais curto para o sucesso.

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