São Paulo, sexta-feira, 5 de abril de 1996
Próximo Texto | Índice

Itália decide julgar o nazista Priebke

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Justiça Militar italiana decidiu julgar o ex-capitão nazista Erich Priebke, 82, pelo massacre das Fossas Ardeatinas.
Priebke é apontado como o oficial responsável pelo crime. O massacre das Fossas Ardeatinas ocorreu em março de 1944, quando 335 italianos que se opunham ao nazi-fascismo foram assassinados pelos alemães.
A audiência que decidiu o julgamento de Priebke aconteceu em Roma e foi secreta. Segundo os advogados, o antigo capitão não demonstrou nenhuma emoção ao ouvir o resultado. Ele é acusado de múltiplo homicídio, agravado por crueldade.
O massacre das Fossas Ardeatinas é considerado o pior crime ocorrido na Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Os oficiais nazistas ordenaram que os partisans (os opositores do governo fascista de Benito Mussolini) entrassem nas cavernas, que ficam nos arredores da capital, em grupos de cinco. Os nazistas atiravam na cabeça dos italianos.
A razão oficial para o massacre foi a morte de 33 soldados alemães, provocada pelos partisans.
Anteontem, Priebke depôs sobre o caso pela primeira vez ao tribunal italiano. Disse que era inocente, apesar de ter realmente comandado a operação. Seu argumento: a ordem do massacre veio diretamente de Adolf Hitler, e ele tinha obrigação de cumpri-la.
Dezenas de parentes de vítimas do massacre tiveram acesso à sessão e reagiram à decisão com palmas e gritos.
A comunidade judaica de Roma emitiu um comunicado expressando "grande apreço e satisfação" pela decisão. Havia 75 judeus entre as vítimas. Desde o final da guerra a comunidade tem sido o grupo mais empenhado em caçar os criminosos de guerra nazistas.
A promotora do caso, Paola Severino di Benedetto, disse que o julgamento de Priebke é necessário para "confirmar a verdade desse episódio bárbaro". Ela avalia que o julgamento, que começa dia 8 de maio, será "uma árdua batalha".
Após a derrota do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) na Segunda Guerra, Priebke fugiu para a América Latina. Ele foi preso no ano passado em Bariloche (Argentina) e extraditado para a Itália após meses de impasse judicial entre os dois países.
A Justiça Militar decidiu também negar prisão domiciliar ao ex-oficial, hoje em uma prisão militar.
O advogado de Priebke, Velio di Rezze, pediu que o tribunal considerasse circunstâncias atenuantes -idade, boa conduta após o crime, arrependimento.
Di Rezze também alegou que a Justiça italiana já havia condenado um culpado pelo crime -Herbert Kapler, comandante alemão em Roma, que em 1948 foi sentenciado à prisão perpétua.
Na ocasião, argumentou Di Rezze, oficiais sob o comando de Kapler foram absolvidos pela tese de obediência devida, e este seria também o caso de Priebke.

Próximo Texto: Avião de Brown não tinha caixa-preta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.