São Paulo, sábado, 6 de abril de 1996
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Governo do DF descumpre negociação

OLÍMPIO CRUZ NETO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), descumpriu um acordo firmado com o governador de Goiás, Maguito Vilela (PMDB), para que os rebelados que buscassem Brasília como rota de fuga tivessem passagem liberada na rodovia BR-060, que liga Goiânia a Brasília.
A Folha apurou que, na manhã do dia da fuga, Buarque ligou para Vilela e anunciou que a Polícia Militar do DF havia montado um forte esquema de segurança nas rodovias que dão acesso à capital.
Nessa conversa, Buarque teria avisado ao governador de Goiás que pretendia chamar a imprensa para anunciar a montagem da barreira na BR-060, numa tentativa de interceptar o carro dos fugitivos e prendê-los.
Segundo a Folha apurou, Vilela pediu a Buarque que evitasse fazer o anúncio à imprensa para não pôr em risco a vida dos reféns que estariam nas mãos dos fugitivos.
O esquema poderia inviabilizar o acordo firmado entre os negociadores e amotinados, que previa dez horas sem perseguições.
Irritação
O esforço do governador petista para interceptar a fuga dos prisioneiros causou irritação no Ministério da Justiça.
O próprio ministro da Justiça, Nelson Jobim, teria se mostrado preocupado com a intenção do governo do DF de buscar mostrar serviço à opinião pública numa eventual perseguição aos fugitivos.
Quando soube da morte de Carolina Cardoso de Andrade, provocada pelo tiroteio na barreira da rodovia, Jobim ficou irritado com a falta de cuidado do esquema montado por Buarque.
Segundo assessores do Ministério da Justiça, o esquema de segurança da PM de Brasília poderia ter custado a vida do desembargador Homero Sabino.
Momentos antes de o carro ser interceptado, Sabino negociou sua vida com os bandidos, temendo tiroteio. Os fugitivos teriam dado garantia de vida ao desembargador, que se comprometeu que não haveria reação armada da polícia.
Outro lado
Segundo o secretário de Comunicação do governo do DF, Luiz Gonzaga, Buarque considerou um sucesso a operação policial.
Ele também afirmou que Buarque havia informado o governador Vilela sobre a iniciativa seis horas antes da fuga.
No momento da libertação de Sabino, à 0h30 de quinta, Buarque teria ligado novamente para ele.
Segundo o assessor, Vilela disse desconhecer o acordo sobre a trégua de dez horas.
A Folha procurou Vilela para confirmar as informações. Sua assessoria informou que ele estava viajando.

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