São Paulo, sábado, 6 de abril de 1996
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Homenagem confusa reúne rock dos anos 80

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A Warner está lançando, numa caixa de dois CDs, a coletânea "13 Anos de Rock Brasil", homenagem da gravadora à geração roqueira nacional dos anos 80.
Só não deu para entender a conta. Se o rock nacional tem 13 anos, no mínimo se desconsidera os pioneiros absolutos Mutantes, que inauguraram o gênero por estas praias em meados dos anos 60 - pra não falar na geração "progressiva" da década de 70.
OK, não sejamos tão ranzinzas: é compreensível que a homenagem se dirija ao novo rock brasileiro, o dos anos 80 -embora o libreto que acompanha a caixa não diga.
Só não é compreensível o esdrúxulo número "13". Se 1996 menos 13 é mesmo 1983, então a Wea afirma que o (novo) rock Brasil nasceu em 1983. Mas a Blitz estourou em 1982, ninguém ignora - o único defeito da banda, para ter sido tão cruelmente esquecida, é não pertencer ao cast da Warner.
Sejamos então ranzinzas: não, o (novo) rock brasileiro não nasceu em 1983. Nem em 1982. "Perdidos na Selva", o primeiro grito de rock nacional dos anos 80, da Gang 90 e Absurdettes (e não Absurdetes, como grafa a WEA) foi gravada em 1981. Portanto há 15 anos.
Pode-se até argumentar que quando a Gang surgiu o rótulo "rock" ainda nem se aplicava, e sim o "new wave". Só não se pode afirmar -como faz o encarte- que "Perdidos na Selva" foi lançada em 1982. Ela consta do LP "MPB Shell 81 Vol. 1", de 81.
A gravadora se defende: "13 Anos de Rock Brasil" deveria ter sido lançado em dezembro do ano passado, 13 anos depois de "Perdidos na Selva". Não foi. Ponto. E havia a Blitz. Ponto.
Seleção
Predomina na coletânea a desinformação. Mas, dirão os desencanados -cobertos de razão-, o que importa é a música.
"13 Anos" é um panelão saboroso para os fãs da terceira geração do rock brasileiro. Traz todo o elenco roqueiro da Warner: Titãs, Ira!, Barão, Lulu, Kid Abelha, Camisa de Vênus, Ultraje, Léo Jaime, Heróis da Resistência, Magazine... Não há Lobão, Paralamas, Legião, que nunca foram da Warner.
A seleção, infelizmente, é irregular; estão presentes exemplos cruciais -"Núcleo Base", com o Ira!, "Ciúme", do Ultraje, "Pintura Íntima", do Kid Abelha- e outros irrelevantes -"Um Certo Alguém" (Lulu).
E há -pasme!- Raul Seixas fechando o disco com Marcelo Nova. Na última das 30 faixas, lembra-se que o rock não nasceu nos idos de 82. Mas só porque o fonograma estava à disposição?

Disco: 13 Anos de Rock Brasil
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 44, em média

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