São Paulo, sábado, 6 de abril de 1996
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PALADINO DA DEMOCRACIA

As declarações do presidente do Congresso, senador José Sarney, de que existe uma campanha orquestrada pelo Executivo para desmoralizar a Câmara Alta, parecem alarmistas, talvez propositadamente alarmistas.
É inegável que no dia-a-dia da política, seja no Brasil, seja em qualquer parte do mundo democrático, existem intrigas e rusgas entre membros do Executivo e do Legislativo, sempre uns procurando tirar algum proveito político dos outros.
Do ponto de vista institucional, porém, não parece haver motivo para temores: o Brasil vive em plena democracia já desde 85 (ou 89, data das primeiras eleições diretas para a Presidência, para os mais puristas), um presidente da República foi afastado segundo os mais estritos ditames da Carta e o presidente Fernando Henrique Cardoso possui uma biografia que desautoriza qualquer suspeita de inclinações não-democráticas.
Orquestradas por quem quer que seja ou não, pouco importa, as denúncias sobre mordomias no Senado são, antes de tudo, fatos. O presidente do Congresso não pode negar que a Casa gastou cerca de R$ 2 milhões na compra de carros que, ao que tudo indica, serão usados pelos senadores, o que é ilegal. Sarney também parece exagerar na importância que dá às críticas da imprensa. Pelo menos a imprensa responsável criticou, não a instituição do Senado, mas o comportamento de certos parlamentares que burlam lei que eles próprios aprovaram. Ou seja, a mídia está cumprindo o seu papel de fiscalizar atos dos governantes.
Há quem diga que o presidente do Congresso, que saiu algo enfraquecido com sua derrota no caso da instalação da CPI dos Bancos, está deliberadamente tentando tornar mais tensa a sua relação com o Executivo. Afinal, Sarney procura desempenhar agora o papel de paladino da democracia, defensor das instituições. É uma posição sem dúvida nenhuma muito confortável.

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