São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Mãe se flagela após a notícia

DA REPORTAGEM LOCAL

Pouca gente sofre tanto com a morte como os caiapós. A dor é ainda maior no caso de Umoro. Além de ser o primogênito da família Raoni, ele tinha herdado o nome de seu avô paterno, um dos mais importantes líderes caiapós.
Segundo a antropóloga inglesa Vanessa Lea, que há 19 anos vive no Brasil pesquisando a cultura caiapó, o sofrimento pela morte é dramático entre as mulheres. A mãe do morto costuma se autoflagelar. Algumas morrem.
Berkwiká, mulher de Raoni, não fugiu à regra. Ao saber da morte de Umoro, ela seguiu o ritual de outras mulheres caiapós: atirou-se no chão e bateu seguidas vezes na cabeça com um facão. Cortou a cabeça em várias partes e sangrou.
O ritual seguido pela mãe caiapó só pára com a intervenção de outras mulheres. Algumas delas, segundo Vanessa, chegam a morrer durante a autoflagelação.
Corte do cabelo
No caso dos homens, a dor tem intensidade física menor. O principal sinal do luto é o corte total do cabelo.
O luto do homem caiapó só termina quando o cabelo cresce até a altura dos ombros -pode demorar mais de seis meses. Durante o luto, segundo Vanessa, o caiapó só pode falar baixo.
Quando está de luto, um homem caiapó não pode pintar o corpo, participar de atividades festivas e solenidades tribais. Não pode nem mesmo frequentar a "casa dos homens", local no centro da aldeia para cerimônias masculinas.
Se for cacique, como é o caso de Raoni, ele tem que passar a função para outro índio. Só volta à função quando o luto acabar. Raoni está cumprindo todo esse ritual.
A Folha tentou falar com ele e não conseguiu por causa de seu luto. Como Umoro morreu no início de janeiro, o luto dever ir até o final de maio ou início de junho.
É nessa época que Raoni pretende fazer a pajelança no local da morte. Os pajés dirão se a morte foi ou não natural. Se foi homicídio, os caiapós podem declarar guerra aos camaiurás e outros índios.

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