São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Tradição guerreira é marca registrada dos caiapós

DA REPORTAGEM LOCAL

A principal característica dos caiapós é a tradição guerreira. Valentes, são temidos por outros índios do Xingu. Para garimpeiros e seringueiros, caiapó tem um significado: gente ruim da mata.
Segundo o sertanista Orlando Villas-Boas, 82, responsável pelo primeiro contato com os caiapós, em 1954, o apelido se deve à bravura desses índios. O próprio Orlando foi vítima dessa valentia.
Em um dos primeiros contatos com os caiapós, Orlando foi preso, arrastado pela mata e quebrou a rótula da perna direita.
Ao serem descobertos, segundo Orlando, os caiapós chegavam a percorrer mais de mil quilômetros para atacar outras tribos.
Os caiapós têm outra marca -o enorme bodoque que fazem com a parte inferior do lábio. O bodoque de Raoni tem 8 cm de diâmetro.
Orlando diz ter conhecido um caiapó que tinha um bodoque de 14 cm. "Era impressionante. Cobria todo o rosto", diz.
Liderança
Após serem descobertos, os caiapós foram viver no parque do Xingu. Considerados hábeis políticos, se tornaram líderes rapidamente. Megaron, sobrinho de Raoni, foi o primeiro a administrar o parque.
Nômades, preferiram voltar, em 85, para o local de sua origem, a cerca de 500 km do parque.
O grande líder dos caiapós é mesmo Raoni. Em 1984, ele foi a Brasília, depois que seus guerreiros bloquearam a rodovia BR-080, que corta suas terras.
Armado e pintado para a guerra, convenceu o então ministro do Interior, Mário Andreazza, a demarcar suas terras. Antes de selar o acordo, puxou a orelha do ministro. "Aceito ser seu amigo. Mas você tem de ouvir índio", disse.
Quando os caiapós foram descobertos, em 54, Raoni era adolescente. Na época, seu pai, Umoro (mesmo nome do filho morto de Raoni) era o cacique caiapó.
Raoni não sabe sua idade. A antropóloga inglesa Vanessa Lea, que morou na aldeia de Raoni, estima que ele tem cerca de 60 anos.
Sucessão
A morte de Umoro serviu para levantar a discussão sobre a sucessão caiapó. Até então, Raoni tinha três filhos homens e três mulheres. Umoro poderia suceder o pai, mas a epilepsia o afastou do processo. Ser forte e ter saúde são importantes requisitos de um cacique.
Os outros filhos, ambos casados, são Atoronget, 25, e Tedje, 20. As mulheres chamam-se Kubetank, 29, Kokoto, 20, e Kokonã, 17.
Antropólogos que estudam os caiapós não sabem se um dos filhos de Raoni será o sucessor. Há sinais de que isso não ocorrerá.
Para ser cacique, é preciso ser excelente guerreiro. Habilidade política também é fundamental. Raoni tem tudo isso. Foi um dos primeiros caiapós a aprender português. Isso foi fundamental para que se tornasse principal interlocutor entre seu povo e os brancos.
Segundo Vanessa, há outras lideranças, além de Raoni, cujas opiniões pesam. Eles formam uma espécie de conselho de sábios.

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