São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Rio compra equipamento inadequado

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio gastou R$ 7,8 milhões na compra de fuzis e equipamentos de rastreamento considerados inadequados por oficiais da PM (Polícia Militar) do Rio.
"Um grupo de estudos do Clube de Oficiais da PM chegou à conclusão que os fuzis do tipo MD-2, da Imbel, são muito caros e apresentam defeitos de fabricação", disse o tenente-coronel Ivan Bastos, presidente do clube.
O relatório apresentado pelo grupo de estudos afirma que o modelo, que pesa 4,8 kg, é muito pesado para o trabalho policial, principalmente em ações de combate ao tráfico nos morros da cidade do Rio.
"A gente costuma dizer no meu batalhão que a melhor coisa no MD-2 é o carregador, que é compatível com o AR-15 (modelo de fuzil mais usado por traficantes)", disse um oficial da PM que não quis se identificar.
Por ser da ativa e servir em um batalhão do Rio, o oficial não pode revelar seu nome para não correr o risco de ser punido pelo código disciplinar da corporação.
Segundo ele, o MD-2, um modelo de calibre 5,56mm, adaptado do FAL de 7,62mm de uso militar, apresentou em testes em estande de tiros defeitos relativos à apresentação e degola dos cartuchos.
Os projéteis travavam no interior do mecanismo das armas no momento em que os eram carregados para o tiro e eliminados após o tiro.
Devido aos problemas apresentados, a PM ordenou, em seu Boletim Reservado de Material Bélico Interno, nº 8, de 10/08/95, o recolhimento do primeiro lote de MD-2 que chegou aos batalhões.
"Cada batalhão recebeu cinco armas. Elas foram devolvidas e depois recebemos mais 25 por batalhão", disse o oficial.
Segundo outro Boletim Reservado, o de nº 11, de 10/11/95, os 960 fuzis foram comprados por R$ 1.680 cada um.
O relatório do grupo de estudos da PM argumenta que valeria mais a pena comprar outros modelos de fuzis que poderiam ser comprados por até um quarto do preço do MD-2.
Apesar de especialistas dizerem que o uso de fuzis, de qualquer marca ou modelo, é inadequado ao trabalho policial, a PM sustenta que eles são fundamentais em operações em morros.
"Quando a gente vai subir um morro e vê um bandido no alto de uma escadaria de mais de 200 degraus, a gente só acerta ele com um fuzil", disse um oficial.
Já o sistema de rastreamento de viaturas via satélite, comprado da empresa Autotrac, do tricampeão de F-1 Nélson Piquet, é apontado no mesmo relatório como muito eficiente em estradas e pouco eficiente na cidade.
"Fora das concentrações urbanas, ele é ótimo, mas nas cidades grandes funciona mal", disse um oficial da PM.
O sistema, que será implantado também em alguns carros da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros, permitiria a monitoramento, feito em uma central de operações, de todas as viaturas com ele equipadas, através do uso de satélites.
Outra vantagem do sistema seria permitir a comunicação entre o carro e a central através de um pequeno teclado de bordo, que permite o envio e a recepção de mensagens de até 50 linhas.
Segundo o relatório, o sistema mostrou falhas nas fases de testes e está sujeito a zonas de sombra. Mesmo assim, foi comprado por R$ 5,8 milhões.

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