São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Ganho em fundos pode ocultar riscos

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Aplicar em um Fundo de Investimento Financeiro (FIF) não é o mesmo que em um CDB.
No CDB, o investidor só perde se o banco quebrar. E a perda é reduzida pelo seguro de depósito.
O seguro não cobre o dinheiro aplicado nos fundos, que funcionam como um condomínio em que cada investidor é co-proprietário (tem quotas).
Além do risco de crédito, o que ficou explícito nas quebras do Nacional e Econômico, os fundos correm outros, como o de mercado (perder em decorrência da flutuação de preços) e o de liquidez (não conseguir vender um título ou ação por falta de compradores).
Risco calculado
Em contrapartida, os fundos oferecem uma grande vantagem: ter acesso ao rendimento máximo com pouco dinheiro.
Logo, é errado o hábito do brasileiro de só olhar para o ganho e deixar de avaliar os riscos.
Para saber o grau de risco, uma das primeiras providências é, conforme Walter Brasil, do Banco Real, pedir uma lista das aplicações realizadas pelo fundo.
As aplicações em títulos públicos federais são as menos arriscadas. Os CDBs do Bradesco são menos arriscados que os de um banco pequeno, e assim por diante. Quanto maior o risco, maiores são as possibilidades de perda e de ganho.
Logo, um fundo que tem uma carteira arriscada deve render mais do que um fundo mais conservador. "Se a carteira é 30% mais arriscada, mas paga 40% a mais, o investidor está fazendo um bom negócio. Se ocorre o oposto, péssimo", diz Brasil.
Títulos federais
Seguindo pesquisa feita junto a clientela, Alfredo Setúbal, vice-presidente do Itaú, diz que a política é de "sempre aplicar com o menor risco possível".
Os fundos do Itaú compram títulos públicos federais, mas não estaduais ou municipais. Já os papéis privados tem de passar pelo crivo da análise de crédito.
Walter Brasil diz que o Real só aplica os recursos em "títulos sem risco (públicos federais) ou de baixíssimo risco."
Indagado se a opção não afeta a rentabilidade, Brasil afirma que ela "não é menor que a dos outros fundos, porque cobramos taxas de administração menores (até 2%, contra a média de 3% a 4%)."
No caso do Bradesco, segundo Antônio Pavão, os "fundos estão recheados de papéis públicos." O banco, afirma, só compra papéis de alta liquidez e de primeira linha.
Fórmula
Já Ulysses Diniz, diretor da UAM (Unibanco Asset Management), diz que, por uma contingência de mercado, existe uma grande concentração em títulos públicos (60%): "Embora representem o menor risco estão pagando taxas muito convidativas."
A UAM usa uma fórmula de avaliação que permite expressar em reais a possibilidade de perda e de ganho. "É um divisor de águas", afirma, completando que o objetivo é, fixado o risco, conseguir a melhor rentabilidade possível.
A aplicação em títulos privados é submetida ao conselho do banco e ao departamento de análise, que, afirma Diniz, é um dos mais completos da América Latina.
Já o Bamerindus procura, conforme Maurício Murad, alongar, na medida do possível, os prazos. "Seguimos um rígido controle de risco. Não tínhamos nada nos fundos dos bancos que quebraram", disse.

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