São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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"Crescimentofobia"

MARCOS CINTRA

O Brasil está sofrendo de uma doença mais grave que a da vaca louca; uma anorexia nervosa causada pela síndrome do pânico antiinflacionário, cujo sintoma é o crescimento econômico anêmico.
Há dois modismos sobre o baixo crescimento econômico mundial. O primeiro é atribuir o crescente desemprego e o baixo crescimento às políticas econômicas neoliberais.
Segundo alguns críticos, a globalização, os capitais especulativos e a concorrência dos baixos salários em países do Terceiro Mundo são as explicações para a crise atual.
Outros atribuem o desemprego a causas estruturais mais profundas, como a revolução da informática, destruindo empregos mais rapidamente do que criando.
Segundo essa visão, pela primeira vez na história uma revolução tecnológica não será capaz de criar um novo ciclo de crescimento sustentado.
Contudo, um estudo da Unctad mostra que a causa da estagnação e do desemprego está no temor exagerado de que o crescimento econômico poderá reacender as pressões inflacionárias.
O resultado são políticas econômicas excessivamente conservadoras, que desestimulam a expansão da demanda e dos investimentos.
O Brasil começa a viver os mesmos sintomas. O governo pratica uma política que inviabiliza a expansão do emprego e dos investimentos.
Diante do fracasso das reformas estruturais, só resta ao governo impedir que a economia cresça, usando juros elevados, valorização cambial e exportação de emprego via abertura punitiva à concorrência externa.
Não é à-toa que, no primeiro trimestre de 96, o Brasil cresceu como rabo, para baixo, em quase 2%.

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