São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Mercado burla monopólio da Embratel

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O monopólio da Embratel para as chamadas telefônicas internacionais está sendo derrubado pelo mercado. Os usuários conseguem escapar das altas tarifas cobradas pela estatal através de um sistema alternativo chamado "call back".
O serviço é oferecido por empresas dos EUA e permite uma economia de até 70% no custo das ligações internacionais. Segundo estimativas do mercado, uma em cada dez chamadas do Brasil para o exterior é feita por esse esquema.
A Embratel acompanhamento diariamente as ligações via "call back" mas não pode impedi-las, porque não há lei que proíba.
O "call back" funciona de forma muito simples e serve também para a transmissão de fax e de dados.
O usuário no Brasil recebe um número exclusivo que fica registrado em um computador do prestador do serviço nos EUA. Quando quer fazer uma ligação internacional, ele digita o número e, em seguida, põe o telefone no gancho.
Em sete segundos, o computador da empresa norte-americana retorna a ligação para o usuário -daí o nome "call back", chamar de volta- e lhe dá a linha para discar para qualquer parte do mundo, como se estivesse nos EUA.
O esquema se sofisticou tanto que as empresas já nem precisam fazer a ligação para os Estados Unidos para conseguir o sinal nos satélites americanos.
Basta instalar uma pequena caixa eletrônica no PABX e discar o número com o qual se deseja falar no exterior. O equipamento faz o contato com o computador nos EUA e obtém a linha automaticamente.
Pelo menos 30 empresas oferecem o serviço no país e o mercado cresceu muito com o advento do Mercosul. O pagamento é com cartão de crédito internacional.
Uma chamada de São Paulo para Buenos Aires, que custa US$ 2,26 (primeiro minuto, no horário comercial) via Embratel, pode cair para US$ 1,33 pelo "call back".
Ligando para China, a economia é ainda maior: o primeiro minuto, no horário comercial, custa US$ 4,38 pela Embratel. Pelo "call back", pode cair para US$ 1,35.
Ligação para os EUA
Mas o rombo maior para a Embratel é nas ligações entre o Brasil e os EUA, que representa o grosso das chamadas internacionais.
Uma chamada média de quatro minutos no horário comercial custa US$ 7,20 pela Embratel. Pelo esquema paralelo, cai para US$ 2,60.
"O call back é o câncer das companhias telefônicas monopolistas", define o diretor da área internacional da Embratel, Edson Soffiatti. Segundo ele, o serviço prolifera em todos os países que têm tarifas superiores às dos EUA.
Na Argentina, onde o "call back" é permitido por lei, o serviço é utilizado até para ligações DDD, para o desespero da Telintar, empresa privada que tem monopólio para as ligações de longa distância.
Uma ligação de Buenos Aires para Mendoza, no norte da Argentina, custa mais barato via EUA. O "call back" é tão popular no país que os operadores desse serviço criaram até uma associação.
A Embratel tentou coibir o serviço no Brasil, mas não conseguiu por falta de embasamento legal.
Nos últimos dois anos, a estatal baixou tarifas internacionais em 50% e convenceu o governo a reduzir os impostos sobre as ligações para o exterior de 38% para 20%.
Motivos
"Nossas tarifas estão próximas às da média internacional, mas não dá para competir com o sistema 'call back"', afirma Soffiatti.
Segundo o diretor da Embratel, a diferença de custos tem três motivos: os EUA não cobram impostos sobre as ligações telefônicas; o custo interno da Embratel é superior ao das companhias norte-americanas; e, por fim, as empresas de "call back" funcionam como uma espécie de mercado atacadista da telefonia internacional.
Como elas operam com grande volume de negócios, conseguem descontos substanciais das companhias telefônicas dos EUA.

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