São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Fracasso holandês

SÍLVIO LANCELLOTTI

Sinceramente, não quero polemizar com nenhum admirador ferrenho do futebol da Holanda. Profissionalmente, porém, tenho de observar que o futebol da Holanda não ganha tantos títulos como desejaria, ou talvez até merecesse, porque falta caráter e centelha de campeão à maioria de seus craques.
Na última quarta, data especialíssima, a última peleja internacional do estádio Olímpico de Amsterdã, inaugurado em 1928, o Ajax sofreu derrota humilhante para o pequenino Panathinaikos da Grécia e agora corre o risco de acabar eliminado da Copa dos Campeões.
Perdeu no espírito e no coração, muito mais do que no futebol. Perdeu porque seu elenco vive um drama comunérrimo entre os astros nederlandeses: a briga desagregadora pelo dinheiro e pelo poder no time.
Um episódio semelhante destruiu a unidade da portentosa Laranja Mecânica de 1974, na véspera da decisão da Copa diante da Alemanha anfitriã, a exigência de um prêmio especial que a Federação da Holanda não tinha como fornecer.
Da mesma forma, viajou dividida à Argentina a seleção que disputaria o Mundial de 78. O capitão Johann Cruyiff nem sequer aceitou a convocação depois de a federação lhe recusar um estipêndio singularíssimo de US$ 3 milhões.
Em 88, com um grupo jovem e disposto a obedecer, o mago Rinus Michels levou a Holanda ao topo do pódio, a Eurocopa.
Na Copa da Itália, em 90, sob o comando de um mestre nas intrigas, Leo Beenhakker, novamente o elenco trocaria a amizade pela secessão -de um lado os ricos do Ajax, do outro os pobres do PSV.
No Ajax de agora a crise provém de vertentes um pouco diferentes -os mais jovens e os mais velhos no time, os estrangeiros e os nativos. Com duas dúzias de craques no elenco, o pedante e falastrão Leon Van Gaal não mais consegue conter a batalha de vaidades.

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