São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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França endurece política antiimigração

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

O governo francês inicia uma ofensiva contra os imigrantes do Terceiro Mundo. Articula o endurecimento da lei de imigração (conhecida como Lei Pasqua) e usa como exemplo um grupo de mais de 300 africanos sem documentação que está acampado em um teatro de Vincennes, periferia de Paris.
As mudanças na lei só não valeriam para imigrantes da Europa Ocidental, dos EUA e do Canadá. A principal preocupação do governo francês é com a imigração clandestina dos países africanos.
Votação
A comissão de imigração clandestina do Parlamento aprovou o projeto que institui as mudanças na quarta-feira (26 deputados da maioria governista votaram a favor, enquanto quatro deputados da esquerda votaram contra).
A decisão final sobre as mudanças deve sair em maio, quando o Parlamento vota o projeto. A lei atual é do conservador Charles Pasqua, ex-ministro do Interior.
Entre as propostas está o aumento do prazo de detenção administrativa antes da deportação -passa de 10 para 45 dias.
Hoje, para impedir a deportação, alguns imigrantes jogam fora seus passaportes. Assim dificultam a identificação. Pela nova lei, as impressões digitais de quem pedir visto para a França serão colhidas três vezes -uma para a embaixada ou consulado que concedeu o visto, outra para a polícia francesa e a terceira para a empresa aérea.
O atendimento médico-hospitalar será restrito a casos de urgência ou de doença contagiosa.
Medidas para restringir a concessão da "carte de séjour" (visto de permanência) também serão tomadas. Em caso de casamento, por exemplo, o visto de dez anos só poderá ser concedido após dois anos de vida em comum -em vez de um ano, como é atualmente.
As prefeituras poderão recusar os certificados de hospedagem, sem o qual um estrangeiro não pode entrar ou ficar no país. Para receber o visto de permanência ou a "carte de séjour", o estrangeiro deve provar que tem onde ficar.
"Estrelas amarelas"
Mas o ponto que tem suscitado mais polêmica na França é a criação de um fichário identificando quem aloja estrangeiros.
Pelo projeto, quem hospedar um estrangeiro será obrigado a comunicar sua partida às autoridades.
O hospedeiro também será responsável por depositar uma caução destinada a cobrir eventuais despesas médicas dos hospedados.
Se um francês for pego abrigando um imigrante ilegal, ficará proibido de fornecer hospedagem a estrangeiros por dois anos.
"Isso coloca em perigo a liberdade pública dos franceses", afirmou à Folha o historiador e advogado Serge Klarsfeld. Para ele, a criação de fichários é um passo perigoso. "Voltamos pouco a pouco à estrela amarela (sinal com que os nazistas identificavam os judeus)", disse Klarsfeld.

LEIA MAIS sobre imigração na França à pág. 1-16

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