São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Ajuda a refugiados de guerra desaparece

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

Quatro anos depois da queda do regime comunista, outra cicatriz da Guerra do Afeganistão sobrevive: 1,4 milhão de refugiados afegãos em solo paquistanês. "Eu quero voltar ao meu país, mas os combates continuam, só que agora entre muçulmanos", lamenta o afegão Momin, 42.
Momin, uma das 15 mil pessoas do campo de refugiados de Jalozai, mantém o costume afegão de ter apenas um nome. No Paquistão ele também continuou a tradição familiar de fazer fornos de barro.
O Paquistão, em 1990, chegou a abrigar 3,2 milhões de refugiados, um fardo que a ONU ajudava a carregar. Mas nos últimos anos a ajuda internacional começou a desaparecer e a ONU fornece atualmente apenas óleo comestível, afirma Ali Gohar, vice-diretor da Comissão para Refugiados Afegãos do governo paquistanês.
A ONU praticamente fechou a torneira de sua ajuda humanitária em setembro de 1995, alegando que os afegãos que não retornaram a sua terra natal já estavam integrados à economia de Peshawar.
"Isso não é verdade", rebate Momin. "Veja quantos desempregados há neste campo."
O refugiado afegão argumenta que a venda de fornos de barro não proporciona recursos para enviar seus dez filhos à escola. "Eles têm aulas só na mesquita", conta.
Além do governo do Paquistão, atualmente 98 organizações não-governamentais paquistanesas e estrangeiras se dedicam a ajudar os refugiados afegãos. A maior parte das ONGs deixou o país com a ofensiva anti-radicais islâmicos do Paquistão.
"Nossa prioridade é promover a educação dos refugiados", explica à Folha Rustam Shah Mohmaud, diretor da Comissão para Refugiados Afegãos. "Temos 600 escolas espalhadas por 120 vilarejos."
Shah Mohmaud evita comentar o corte da ajuda direta da ONU e dispara: "Os refugiados querem voltar ao Afeganistão, mas aquilo hoje não é um país, por causa da guerra civil não há agricultura, eletricidade ou produção".
Momin diz sonhar com a volta a Jalalabad, sua cidade natal. "Deixei lá uma casa quando fugimos da guerra em 1980. Aqui sou um estrangeiro, não é meu país", afirma. "Só que fica difícil prever quando haverá paz."
(JS)

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