São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996
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Paquistão fecha "universidade terrorista"

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

Pressionado pelos EUA para combater o fundamentalismo islâmico, o Paquistão ordenou no ano passado a saída de seu território da Universidade "Dawa e Jihad", acusada de ser centro de preparação de terroristas.
"Não há nada ligado ao terrorismo em nossa universidade, nunca tivemos treinamento militar", diz à Folha o afegão Mahmood Zia, 24, que estudava medicina. "A acusação faz parte da propaganda norte-americana."
O governo paquistanês, pró-ocidental, preferiu acreditar na versão dos EUA, e a Universidade "Dawa e Jihad" (Convocação e Guerra Santa, em árabe) se prepara para deixar o campo de refugiados afegãos de Jalozai, que fica 22 km a leste de Peshawar.
"Esperamos a mudança para Jalalabad, no Afeganistão; vários professores já foram para lá", explica Mahmood Zia. A universidade pertence ao Ittehad-i-Islami, grupo fundamentalista afegão envolvido na guerra civil que rasga o país desde a queda comunista.
O conflito enfraquece o governo central e transforma o país numa espécie de terra de ninguém, dividido entre chefes militares locais.
Dois terços do território afegão são controlados pelo Taleban, milícia dirigida por estudantes que frequentaram escolas muçulmanas no Paquistão e que visa criar um Estado islâmico.
Depois de abrir suas fronteiras nos anos 80 a voluntários muçulmanos e lhes oferecer ajuda financeira doada pelos EUA, o Paquistão busca agora esmagar o radicalismo islâmico. Seu governo disse que "se compromete a combater com todos mecanismos possíveis o perigo" da militância religiosa.
Em 1993, a polícia paquistanesa deslanchou uma ofensiva para prender estrangeiros irregulares.
O fechamento da Universidade "Dawa e Jihad" entra no cardápio de medidas que buscam esfriar o extremismo religioso. "Os maiores prejudicados são os cerca de 3.000 estudantes afegãos, todos refugiados", afirma Mahmood Zia.
A universidade oferecia cursos gratuitos de medicina, engenharia, agronomia e estudos islâmicos. "Acho que os EUA consideram um pecado a ajuda financeira que recebíamos de países árabes", opina o estudante Mahmood Zia.
(JS)

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