São Paulo, domingo, 7 de abril de 1996 |
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Protesto de 'sem-papel' mobiliza França
LUIZ ANTÔNIO RYFF
Eles haviam sido expulsos da igreja Saint-Ambroise -em uma ação policial que contou com o consentimento do arcebispo da capital. Entre eles há quase cem crianças -muitas com menos de um ano de idade-, vivendo em condições precárias. Os africanos resolveram invadir a igreja para denunciar a condição em que viviam. Foram expulsos em uma ação ilegal da polícia. Sete dos malineses que ocupavam a igreja foram deportados de volta. Depois de peregrinarem por alguns lugares, eles foram abrigados pela direção do teatro. Solidariedade O tema mobilizou a França. A viúva do presidente François Mitterrand, Danielle Miterrand, e o abade Pierre, que se notabiliza pela defesa dos desabrigados, saíram em defesa dos africanos "sem-papel", como ficaram conhecidos. Os "sem-papel" não são imigrantes ilegais. Têm emprego, onde morar e entraram legalmente na França. A diferença é que o governo renova a permissão de estadia dos "sem papel" por períodos breves, mas não concede a "carte de séjour" (visto de permanência). Isso, na prática, só permite que eles consigam empregos temporários, sempre de remuneração muito baixa. São o melhor exemplo das "vítimas" criadas pela política de imigração do governo francês. "Quando o patrão sabe que a gente não tem autorização para trabalhar ele deixa de pagar. A gente vai reclamar com quem?", se queixa o malinês Fily Kanoute, 35, um dos africanos "sem-papel". "Estávamos cansados de viver escondidos e não tínhamos como nos organizar individualmente", explica a malinesa Hatoumate Niakté, 19, acampada com seus dois filhos pequenos, de 1 e 2 anos. "Não comemos bem nem nos alimentamos bem. E sempre há a preocupação com a polícia", diz. Brigas étnicas Dormindo em barracões, se alimentando em tendas improvisadas, com a polícia montando guarda do lado de fora do teatro, e sem expectativa de resolução do problema, os "sem-papel" vivem em estado de tensão. Discussões e brigas entre os homens são frequentes, porque, embora vindos do mesmo país, muitos são de etnias diferentes e adversárias. "Na França há uma crise social cada vez mais grave. Os governos têm a tendência de culpar os imigrantes pela criminalidade e desemprego", disse à Folha Kamel Sassi, coordenador da organização Droits Devant!, que dá assistência aos africanos "sem-papel". "De acordo com a Lei Pasqua, eles não podem trabalhar legalmente nem ter acesso a assistência social", afirmou Sassi. "A França não é mais um país onde os direitos de um homem são respeitados", reclama Kanoute. Texto Anterior: Norte usa arma pesada na fronteira coreana; Homem mata nove e se suicida no Canadá; Morre atriz irlandesa ganhadora do Oscar Próximo Texto: Franceses apóiam lei Pasqua Índice |
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