São Paulo, segunda-feira, 8 de abril de 1996 |
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Ashkenazy vem ao Brasil como regente
LUIS S. KRAUSZ
Ashkenazy, que se apresentou no Brasil em 1995 como pianista, foi também diretor musical da Royal Philarmonic Orchestra de 87 a 94. Atualmente, é regente-chefe da Orquestra Sinfônica da Rádio de Berlim e regente convidado da Cleveland Orchestra (EUA). Em entrevista à Folha, Vladimir Ashkenazy falou sobre sua carreira e os rumos da composição. "Talvez não haja futuro para a música erudita." * Folha - O sr. tinha uma carreira notável como pianista antes de se dedicar também à regência. Qual é a diferença fundamental entre ser um solista e reger? Wladimir Ashkenazy - A principal diferença é que, ao contrário do piano, a orquestra precisa passar por muitos ensaios até fazer exatamente aquilo que eu quero. Folha - Como você distingue a autonomia do solista do trabalho de regência, no qual se está lidando com pessoas que têm vontades e limitações próprias? Ashkenazy - Os músicos fazem exatamente aquilo que eu quero, não tenho problemas. Basicamente, trata-se de uma diferença técnica: é preciso lidar com as pessoas que estão à sua frente. Folha - Você tem uma orquestra favorita? Ou orquestras favoritas para determinado repertório? Ashkenazy - Em Viena ou na Alemanha, as orquestras estão mais à vontade quando tocam seu próprio repertório. A filarmônica de Viena focaliza mais seu repertório -Beethoven, Haydn, Mozart, Schubert, Brahms, Richard Strauss, Bruckner- e não gosta tanto do repertório de música contemporânea, de música russa ou francesa. Mas a Filarmônica de Berlim, por exemplo, é uma orquestra universal, que toca bem qualquer repertório. A maior parte das orquestras britânicas e americanas também são universais. Folha - Quais as particularidades da Orquestra Jovem da União Européia? Como os músicos jovens se compararam aos das grandes orquestras internacionais? Ashkenazy - Estão num nível muito alto. A orquestra tem, a cada ano, uma formação diferente. A deste ano é uma das melhores que já vi. São jovens e precisam de experiência, mas pode-se fazer coisas excelentes com eles. Este trabalho é realmente um prazer. Folha - Como foi escolhido o programa para esta turnê? Ashkenazy - Pediram-nos um programa aceitável para o público sul-americano. Nada exótico, desconhecido ou fora do circuito. Folha - Como vai sua carreira como pianista? Ashkenazy - O piano não está em segundo lugar para mim. Eu continuo tocando muito. Folha - Fale-nos um pouco de suas origens musicais. Ashkenazy - Meu pai é pianista. Estudei em Moscou, na Escola de Música e no Conservatório. Emigrei para o Ocidente em 1963. Fui enviado à Inglaterra para apresentar um recital, e fiquei, sem permissão das autoridades soviéticas. Folha - Sua família sofreu represálias por causa disso? Ashkenazy - Não exatamente. Aquela já era uma época diferente. Mas a vida lá era muito difícil. Eles nunca saíram da Rússia. Folha - Como você vê as tendências na composição de música erudita? Há um futuro para o gênero? Ashkenazy - Duvido que alguém possa dar uma resposta a esta pergunta. É impossível prever. Acho que existem muitos compositores atuais interessantes, como Ligeti, Takemitsu... Mas não sei para onde tudo isto está indo. Talvez haja um fim para a música erudita também... Concerto: Wladimir Ashkenazy rege a Orquestra Jovem da União Européia Quando: no Rio, hoje, às 21h; em São Paulo, dia 16 de abril Onde: no teatro Municipal (pça. Floriano s/nº, centro do Rio, tel. 021/240-8665); em São Paulo, no teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo s/nº; tel. 011/223-3022) Quanto: no Rio, R$ 80 (platéia e balcão nobre); R$ 60 (balcão simples) e R$ 30 (galeria) Texto Anterior: Martins expõe a intuição das formas desdobradas da escrita Próximo Texto: Caçador de hacker fatura US$ 2 mi Índice |
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