São Paulo, segunda-feira, 8 de abril de 1996
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Tríplice Aliança é culpada pelo fracasso

DO ENVIADO ESPECIAL

Um evento ocorrido há mais de 130 anos ainda marca o imaginário paraguaio: a guerra contra a Tríplice Aliança, que agrupou Brasil, Uruguai e Argentina.
O líder paraguaio da época, Francisco Solano López, aparece em todas as partes. É comum que placas históricas junto aos monumentos tragam, sem eufemismos, referências à derrota e à miséria decorrente da guerra.
Os paraguaios costumam atribuir à guerra o fracasso econômico do país. "O país teve a primeira fundição de ferro das Américas, o primeiro cabildo (prefeitura) da região platina. Tudo isso foi destruído", diz o historiador Carlos Alberto Pusineri Scala, diretor do Museu da Independência.
A versão do professor Pusineri se torna cada vez mais dominante mesmo no Brasil. Apesar de pequeno e pouco povoado, o Paraguai tinha, antes da guerra, um desenvolvimento notável.
O equilíbrio político na região se rompeu quando Brasil e Argentina apoiaram uma revolta no Uruguai, no começo da década de 1860. Paraguai e Uruguai mantinham um pacto, rompido com a revolta.
Solano López era o terceiro presidente do país. Havia chegado ao governo após a morte de seu pai, Carlos Antonio López, em 1862. Ele tinha então 35 anos.
Apesar ser militarizado, o país não teve chance contra a Aliança. Na época, o Paraguai tinha 800 mil habitantes. No final da guerra, em 1870, tinha apenas 200 mil.
O próprio Solano morreu na guerra, na batalha de Cerro Corá (nordeste do país, próximo à fronteira com o Brasil).
Sua derrota ocorreu no primeiro dia de 1869, quando as tropas brasileiras entraram em Assunção. Os soldados paraguaios ainda resistiriam até 1º de março de 1870, até a batalha de Cerro Corá.
Grande parte dos soldados brasileiros eram escravos enviados à linha de frente por seus senhores.
Por isso, relata o professor Pusineri, ainda hoje há forte preconceito contra os negros em aldeia do interior do país. Mais de cem anos depois, sua imagem é associada à das tropas brasileiras.
Stroessner
O general Alfredo Stroessner iniciou seu governo em maio de 1954, quando, na condição de comandante das Forças Armadas, derrubou o presidente Frederico Chaves. Stroessner, um militar descendente de alemães, se tornou a figura-chave do país, mesmo depois de sua queda.
Legalmente, ele foi eleito presidente dois meses depois do golpe. Era o candidato único, numa eleição que se repetiria algumas vezes.
Stroessner governou com mão-de-ferro até que, em 1989, o sogro de sua filha, o general Andrés Rodríguez, depôs o ditador. O ex-presidente vive hoje no Brasil.

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