São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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'Melodrama' faz inventário de clichês

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Melodrama", de Filipe Miguez, faz um inventário de clichês. As situações e os personagens tipicamente melodramáticos são cuidadosamente construídos -não com o objetivo de aderir ao gênero, mas de refletir sobre ele.
Duas histórias se entrelaçam. Em uma delas, Doralice enfrenta o cunhado Miguel para poder viver seu amor por Adolfo. Na outra, uma família atravessa cinco capítulos entre incestos e adultérios.
Percorrendo as tramas, dois personagens dão a linha mestra: um ébrio, remoendo a culpa de ter matado a mulher -inocente- por suspeitar que era adúltera, e um desmemoriado, lutando por reencontrar sua própria história.
"É uma visão panorâmica do gênero melodramático", diz o diretor Enrique Diaz. Feita ao lado do autor, a pesquisa que deu origem ao espetáculo consumiu dois anos, mais sete meses de ensaios.
O objetivo, diz o diretor, é revelar a estrutura do melodrama. Para chegar a esse ponto, a peça adota uma fidelidade absoluta ao gênero. Ao mesmo tempo, inverte as perspectivas e se distancia.
É por fidelidade que ela se torna um exercício de estilos. A saga da família incestuosa começa em cenas a Nelson Rodrigues, assume o clássico francês do século 18, passa por um seriado de TV, desemboca em um cabaré argentino e acaba como cena de ópera italiana.
Também por fidelidade, são introduzidos elementos inesperados capazes de alterar a trama, como um irmão gêmeo do namorado Adolfo na história de Doralice.
Inversão e distanciamento surgem quando essa mesma história de Doralice, por exemplo, revela-se uma novela de rádio. A heroína da trama é "na verdade" a personagem vivida pela personagem.
Nesse jogo de "verdades", os personagens de uma história podem assistir a outra em vídeo. Tornam-se, no palco, espectadores.
No Rio, ano passado, a peça ganhou três prêmios Mambembe e dois prêmios Shell. (ECB)

Peça: Melodrama, de Filipe Miguez
Direção: Enrique Diaz
Com: Drica Moraes, Susana Ribeiro, Bel Garcia, César Augusto, Gustavo Gasparini, Marcelo Olinto e Marcelo Valle
Onde: Tuca (rua Monte Alegre, 1.024, tel. 011/873-3422)
Quando: estréia sexta-feira, às 21h
Quanto: R$ 15

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