São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 1996
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Acácio em Buenos Aires

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Cabeças pensantes aqui no Rio estiveram reunidas com o presidente da República na casa de um empresário.
Curiosamente, são sempre as mesmas cabeças pensantes e são sempre os mesmos empresários que se assanham diante de qualquer poder e o bajulam até que venha outro poder. Mas deixa pra lá.
Como estou no pólo oposto dessas cabeças pensantes -acho que minha cabeça nunca pensou nada que prestasse-, folgo sinceramente com o apoio que o poder recebeu de agitadores culturais, cantores, humoristas de vários tamanhos e feitios e -exceção honrosa- de dona Dercy Gonçalves, a quem admiro e considero uma Joana D'Arc às avessas, uma dama. Por sinal, foi ela quem menos puxou o saco preto presidencial.
Robustecido com o apoio de tais e tantas cabeças pensantes, o presidente foi à Argentina e lá, mais uma vez, descobriu a pólvora e proclamou o óbvio: "Os banqueiros irão para a cadeia na forma da lei e se a Justiça os condenar".
Seria interessante se o presidente afirmasse o contrário. Ou seja, mesmo que a Justiça condene os banqueiros, ele não mandará ninguém para a cadeia. Acontece que com um mandado judicial no bolso, qualquer guarda florestal pode prender até mesmo um presidente da República foragido.
Teme-se, e com razão, é que a Justiça não condene ninguém e que a lei seja mudada para aliviar a barra daqueles que contribuíram com largueza para a campanha de FHC, a passada e a próxima. O presidente dispõe do "Diário Oficial" para aquilo que ele chama de "articulações políticas".
E sua moral é "mobile" como aquela mulher cantada pelo duque em "O Rigoleto". Basta lembrar a dualidade com que agiu no caso do senador Lucena e dos petroleiros.

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