São Paulo, quinta-feira, 11 de abril de 1996
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Ex-guia de cegos, Tabibuia sintetiza erotismo e religião

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A iniciativa da galeria Nara Roesler pode ser chamada, no mínimo, de ousada. Afinal de contas, não é todo dia que um artista negro, pobre e analfabeto é escolhido para uma exposição individual. Com curadoria de Frederico Morais, a mostra vem acompanhada de ciclos de palestras, sessões de vídeo e o lançamento de um jornal-catálogo.
A escolha de Chico Tabibuia para a mostra, como explica o curador, espelha uma tendência mundial que passa pelo multiculturalismo e pelo esgotamento estético de certas linguagens euro-norte-americanas.
O perigo dessa tendência seria um aprisionamento aos rótulos e um apego excessivo às questões de minorias. Felizmente Chico Tabibuia transcende qualquer aspecto politicamente correto. Trata-se de um artista explosivo, que esculpe a madeira com síntese, despojamento e vitalidade.
Em seu currículo ele acumula funções nada artísticas, como o de guia de cego, guardador de vacas e lenhador.
O resultado de sua arte são figuras com pênis gigantescos e referências bissexuais que vão de uma vagina de onde brota um falo a uma cavidade uterina com pênis, passando por imagens de relação vaginal-anal, imagens de auto-copulação e uma série de pênis com cabeças humanas.
Como contraponto à sua sexualidade catártica, Tabibuia se coloca como um fervoroso adepto da Assembléia de Deus.
Com sua síntese simples e potente, Tabibuia encarna um importante aspecto da arte brasileira.

Exposição: Chico Tabibuia - Eros e Magia
Onde: Galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, tel. 011/853-2123)
Quando: abertura hoje, às 21 horas

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