São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Líderes empurram a decisão para FHC

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O destino da reeleição está nas mãos do Palácio do Planalto. A emenda só será debatida no Congresso depois de uma palavra final do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o interesse do governo em aprovar a proposta.
O presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), optou por dividir com FHC a responsabilidade sobre o momento oportuno de deflagrar o debate.
O expediente dará ao presidente a chance de mais quatro anos de mandato. A conversa entre os dois ficou para domingo.
"A decisão tem de ser do presidente. Ele tem de avaliar se não é uma precipitação", afirmou o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), após reunião com Luís Eduardo e com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
"Contaminação"
Ontem, os principais partidos da base governista trataram de esfriar ainda mais o assunto.
Dirigentes do PMDB e do PFL levaram pessoalmente a FHC os argumentos para adiar o debate da reeleição para o ano que vem.
"Está cada vez mais difícil", resumiu o líder do PFL, deputado Inocêncio Oliveira (PE), depois de ouvir o relato da conversa que o presidente do partido, Jorge Bornhausen, teve com FHC anteontem à noite.
Bornhausen investe na reeleição, mas sustentou que a votação da proposta já é inconveniente.
Isso iria "contaminar" as reformas constitucionais em curso no Congresso, acabaria não beneficiando os prefeitos por falta de tempo e ainda poderia ser questionada na Justiça.
Bornhausen deixou a conversa com a seguinte avaliação: apesar do discurso que fez na Argentina, FHC hesita sobre o melhor momento de votar a proposta.
FHC deu a mesma "impressão" aos líderes do governo e do PMDB na Câmara, Luiz Carlos Santos (SP) e Michel Temer (SP).
"O quadro está indefinido e vai envolver uma ampla avaliação política a respeito da oportunidade de votarmos isso", afirmou Luiz Carlos Santos.
Temer saiu do Palácio da Alvorada convencido de que FHC não fará força para aprovar a reeleição já. "A tendência é esfriar", apostou.
O líder do PMDB reconhece que seu partido está dividido. Mas diz que o lançamento de um candidato próprio à sucessão de FHC pode unir a legenda contra a reeleição.
O PSDB -partido de FHC- é o único que insiste em votar a reeleição já. O partido não faz questão de estender o benefício aos atuais prefeitos nas eleições de outubro, mas calculam que será mais difícil aprovar a reeleição em 1997.
"Casuísmo"
O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), entende que FHC deu um empurrão à tese durante a reunião com um grupo de prefeitos no Palácio do Planalto, em campanha pela reeleição.
Fernando Henrique disse que "casuísmo" é não debater a emenda agora. Disse também que a decisão cabe ao Congresso.
Na contramão dos demais líderes governistas, Aníbal só participa de um consenso: o de que só por um milagre a proposta de reeleição valerá para os atuais prefeitos.
"Se até a semana que vem a comissão especial não for instalada, ponto final", disse.
Inocêncio Oliveira foi mais enfático: "É impossível".
A proposta teria de ser aprovada antes de 30 de junho, prazo final a homologação de candidaturas.
À noite, o principal articulador da reeleição, o ministro Sérgio Motta (Comunicações), jantou com governadores do PSDB Tasso Jereissati (CE), Eduardo Azeredo (MG) e Marcello Alencar (RJ).

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