São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Parlamentares cobram de FHC conta do fisiologismo

SÔNIA MOSSRI
LUCIO VAZ

SÔNIA MOSSRI; LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

'Ética da malandragem' não foi cumprida, diz deputado

A bancada governista já cobra a fatura pelo apoio ao governo na reforma da Previdência.
As bancadas do Amazonas, Rondônia e Alagoas pressionam pela liberação de verbas, empréstimos e cargos. A disputa de poder entre o PSDB e o PPB pela Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) paralisou o órgão.
O governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PPB), e o deputado Pauderney Avelino (PPB-AM) foram ao presidente Fernando Henrique Cardoso reclamar do suposto descaso do ministro do Planejamento, José Serra, com a região amazônica.
A bancada de Rondônia (oito votos) cobra do governo a liberação de R$ 22 milhões para restaurar a BR-364. Eles trocaram o voto na emenda da Previdência pela promessa de liberação do dinheiro.
O Orçamento da União, aprovado nesta semana, prevê apenas R$ 4,5 milhões para essa obra.
"Ou o governo vai cumprir, ou mudamos de posição. A decisão é unânime", afirma o deputado Expedito Junior (PPB-RO).
A bancada de Alagoas (nove votos) exige que o Ministério da Fazenda autorize a contratação de um empréstimo externo no valor de R$ 160 milhões destinado ao pagamento de dívidas do Estado.
Serra
Na manhã de ontem, Pauderney disse à Folha que "Serra quer acabar com a Suframa" ao não autorizar reuniões do conselho administrativo do órgão.
O parlamentar reclamou que a Secretaria de Controle Interno do Ministério do Planejamento elaborou um dossiê sobre supostas irregularidades na Suframa que envolvem a sua família.
"Dizem que o Manoel Rodrigues (atual superintendente da Suframa) teria me beneficiado por intermédio da construtora Capital. Eu já me desliguei da empresa", observou o Pauderney.
O governador Amazonino afirmou que é difícil negociar com Serra, classificado por ele como uma "brasileiro pela metade" por tentar ditar regras sobre uma região que não conhece.
À noite, depois de encontro com Serra, Pauderney mudou o discurso sobre o ministro. Ele afirmou que o ministro iria discutir com o governo amazonense um programa de investimentos para a região e o problema da Suframa.
Serra disse à noite que "o governo não quer eliminar a Suframa, mas fortalecê-la". Segundo o ministro, isso será feito "estabelecendo a sua maior especialização, induzindo-a a aumentar a internalização de sua produção, melhorando suas condições administrativas, combatendo fraudes e gerando mais empregos".
Eleições
Os tucanos querem a saída de Rodrigues da Suframa. O candidato à presidência nacional do PSDB e vice-líder do partido na Câmara, Arthur Virgílio, disse que defendeu junto a Fernando Henrique a escolha de um superintendente "técnico".
"Já falei ao presidente que o PSDB não consegue resultados de impacto no Amazonas por causa das ligações políticas da Suframa", afirmou Virgílio.
Troca-troca
O deputado Confúcio Moura (PMDB-RO) afirma que a sua mudança de voto na reforma da Previdência lhe causou um conflito interno:
"A gente fica num sofrimento interno grande, por ter negado fogo na hora 'h'."
Agora, ele espera que o governo cumpra o acordo: "A gente fica na expectativa de que, até para fazer uma coisa que não é correta, tem de existir ética dos dois lados. É a chamada ética da malandragem".
A bancada de Alagoas fez uma reunião de emergência no cafezinho da Câmara, às 19h da quarta-feira. Dez minutos depois, 4 dos 9 deputados foram ao plenário e votaram contra o governo numa votação da Lei de Patentes.

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