São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Toxina na água causou 34 mortes em PE

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A causa das mortes dos doentes renais submetidos à hemodiálise em Caruaru (PE) foi intoxicação gerada pela toxina microsistina-LR, segundo relatório apresentado ontem pelo secretário da Saúde do Estado, Jarbas Barbosa.
Os pacientes teriam sido contaminados por esta toxina através da água usada no tratamento de hemodiálise no IDR (Instituto de Doenças Renais) de Caruaru.
Até ontem à tarde, 38 pacientes do IDR haviam morrido: 34 por hepatite tóxica (contaminados) e quatro em decorrência do problema específico de cada um (sem contaminação).
Sessenta e nove estão internados no Hospital Barão de Lucena, em Recife, dois deles em estado grave.
O responsável pela qualidade da água usada no tratamento dos doentes renais são as próprias clínicas de hemodiálise, segundo portaria do Ministério da Saúde que estabelece as normas de funcionamento delas.
Água não-tratada
O IDR usava, havia cerca de um ano, água comprada em carros-pipa, retirada de um açude e, segundo o secretário Barbosa, utilizada na hemodiálise sem o tratamento necessário.
"O IDR descumpriu cuidados mínimos que poderiam ter evitado a tragédia", afirmou Barbosa.
O relatório da Secretaria da Saúde será encaminhado ao Ministério Público, ao delegado de Caruaru que abriu inquérito para apurar o caso, ao Conselho Regional de Medicina e à CPI da Assembléia Legislativa.
"O que deveria ser feito nós fizemos. Agora cabe à Justiça estabelecer a culpa", disse Barbosa.
Segundo o secretário, o trabalho da pesquisadora Sandra Azevedo, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), foi a principal evidência de que a toxina causou as mortes (leia texto abaixo).
Outro lado
O proprietário do IDR, Bráulio Coelho, disse ontem que não sabia que a água utilizada no tratamento dos 126 pacientes da clínica não era tratada.
"Eu não sou fabricante nem distribuidor de água. Eu comprava a água da Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento) e esperava que ela me fosse entregue adequadamente tratada."
Segundo Coelho, seu único erro no caso foi não ter feito a análise da água. "Mas eu duvido, duvido mesmo, que nos últimos dois anos qualquer clínica de hemodiálise no Brasil tenha feito um exame dessa natureza. Podem ter feito agora, depois do que aconteceu em Caruaru", disse ele.
O gerente regional da Compesa em Caruaru, Judas Tadeu de Souza, recusou-se a falar sobre o assunto.

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