São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Indústria recorre mais à hora extra

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o aumento do desemprego que se intensificou com o Real, a produção industrial de São Paulo cresce não só devido a ganhos de produtividade, mas também à custa da hora extra.
Essa é a conclusão de estudos feitos tanto por entidades de trabalhadores como de empresários.
Na Grande São Paulo, por exemplo, o número de trabalhadores na indústria de transformação que fazem hora extra aumentou de 36,7%, em 1992, para 42,5%, em 1995, segundo pesquisa feita pela Fundação Seade e Dieese.
Há oscilações de acordo com o ritmo da produção mensal, mas na média anual, cresce, desde 92, a porcentagem dos que trabalham mais do que a jornada constitucional de 44 horas semanais.
No período, caiu o total de horas trabalhadas no setor.
Segundo a Fiesp, de fevereiro de 92 a fevereiro deste ano (último dado disponível), o índice das horas trabalhadas que tem 1989 como base 100 caiu de 79,9 para 69,6.
Mesmo em 95, que teve um fevereiro forte, o índice de horas trabalhadas era 79,5, menor que o de 92.
O Indicador do Nível de Atividade na indústria, de fevereiro de 92 a fevereiro de 96 subiu de 70,08 para 94,2, de acordo com a Fiesp.
Ou seja, a produção é maior com menos horas de trabalho.
"Os ganhos de produção foram obtidos com aumento da produtividade mas também com horas extras", diz Pedro Paulo, diretor-executivo da Fundação Seade.
Competição
O diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Boris Tabacof, diz que "o nome do jogo é competição. Na busca quase desesperada para reduzir custos, a indústria corta pessoal, produz mais com menos horas trabalhadas e acaba apelando para hora extra se as encomendas aumentam."
Segundo ele, os empresários não têm expectativas de um crescimento significativo e sustentado da demanda para recontratar.
Flávio Castelo Branco, economista da CNI, acrescenta que os juros ainda elevados não incentivam investimentos produtivos que sempre geram emprego.
"Apesar de cara, a hora extra permite um aumento da produção de uma hora para outra, sem a necessidade de treinar novos trabalhadores e de ter de pagar verbas rescisórias dos que serão demitidos quando a produção cair", diz.
Os dados da CNI, em 12 regiões do país, também mostram queda nas horas trabalhadas. O índice dessazonalizado, que tem 92 como base 100, passou de 105,92 em fevereiro de 92 para 91,56 em fevereiro deste ano.

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