São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
Próximo Texto | Índice

Inquérito reforça 'fita do suborno'

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O inquérito do caso da "fita do suborno" reforça a tese de envolvimento ilícito entre o presidente do Botafogo, Laerte Alves, e o ex-juiz Wilson Roberto Cattani.
A Folha teve acesso ontem aos papéis da investigação.
Eles revelam, pela primeira vez, que há testemunhas de que houve um encontro entre os acusados de manipular o resultados de jogos da segunda divisão do Campeonato Paulista de futebol de 1995.
O presidente do Catanduva, Adauto Donizete dos Santos Menino, disse em depoimento que Cattani foi atendido por Alves na sala da presidência do clube de Ribeirão Preto em julho passado.
Tanto Cattani como Alves negam as acusações e vêm sustentando que não se conhecem.
O delegado Sílvio Tinti, que chefia o inquérito, afirmou, porém, que não tem mais dúvidas de que os dois estabeleceram uma relação com o fim de fraudar jogos.
Alves teria contratado o ex-árbitro para ajudar o clube de Ribeirão Preto a se classificar à Série A-1 do Paulista de 96.
A Cattani caberia intermediar o pagamento de juízes do torneio.
O Botafogo terminou em terceiro lugar na Série A-2 e conquistou a vaga na primeira divisão.
Gravação
O inquérito foi instaurado quando o conteúdo da "fita do suborno" -gravações entre um jornalista de Ribeirão Preto e Cattani, na qual este aponta a existência do suposto esquema de fraudes- foi revelado pela Folha a partir de 18 de outubro passado.
O presidente do Catanduva esteve na sede do Botafogo no final de julho, junto com o ex-juiz Dulcídio Wanderley Boschilia. O ex-juiz já havia revelado o encontro, mas Menino é a primeira pessoa que diz ter visto Cattani com Alves.
"Eu vi ele mesmo. Não sei o que conversaram. Conheci o Cattani naquele dia mesmo, mas ele estava na sala do Laerte."
Em outro depoimento, Roberto Archiná, supervisor do Juventus, que trabalhou para o Botafogo nos últimos 12 jogos do Paulista-95, conta ter encontrado com Cattani em quatro jogos do clube.
Três ocorreram no estádio Santa Cruz e um no estádio do Nacional, em São Paulo. Archiná diz que conhece Cattani há 15 anos.
O inquérito contém ainda evidências reveladas pela Folha, como fotografias de Cattani na festa do Botafogo (publicadas a partir de 6 de dezembro de 95) e a relação de 181 ligações telefônicas entre aparelhos de Cattani e Alves, publicadas em 7 de janeiro. O total de telefonemas passa de 400.
Faz parte do inquérito o depoimento do mecânico Alcyr Sánchez Pérez, que diz ter levado o amigo Cattani a Ribeirão Preto (319 km ao norte de São Paulo) para receber dois cheques de Laerte Alves.
Em entrevista à Folha, no último dia 15, Pérez confirmou o fato.
O inquérito contém também evidências materiais, como cópias de contas telefônicas de linhas que pertencem a Cattani, a Alves e ao diretor de Futebol do Botafogo, Mário Defelicibus.
Tinti afirmou que a investigação da "fita do suborno" só não foi encerrada porque não chegaram algumas informações pedidas à Telesp, Ceterp e Banco Central.
"Quando isso chegar, vamos fazer o indiciamento, pelo menos, do Cattani e do Laerte Alves."

Próximo Texto: Citados dão outra versão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.