São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Eles aprenderam a se alimentar sozinhos

DA REPORTAGEM LOCAL

Eram seis porcos chamados monteiros. Vieram de longe, de além-mar. Estranharam aquele lugar chamado Pantanal, assim como estranhavam se chamarem monteiros.
A tradição dos portugueses Monteiros, criadores de porcos domésticos, tinha mais de cem anos. Por que não dar aos bichos o nome que deu tanta fama à família?
Os seis porcos monteiros passaram boa parte da vida presos no quintal português da família Monteiro.
Os porcos vieram de navio para viverem em fazendas -diziam, de um lugar distante no Brasil, Mato Grosso.
No começo, acharam estranho os outros bichos de nomes e hábitos esquisitos.
O tal de tuiuiú, por exemplo, passava o dia todo a comer. Como comia aquela ave.
Os porcos se habituaram ao Pantanal. Até que as coisas mudaram. Veio a guerra.
Donos de terras foram chamados para lutar. Os seis porcos-monteiros tentavam entender o que era aquilo que os humanos chamavam de Guerra do Paraguai.
Os porcos não entenderam nada. Quando se deram conta, estavam ali, sem ninguém que os alimentasse.
Os porcos ficaram soltos naquele lugar de tantos bichos. Tiveram de se acostumar a viver sozinhos. Os mais frágeis morreram. Outros foram se arriscando aos poucos, aprenderam a escolher a comida, a se defender.
Esses foram deixando filhos, que não nasciam mais sob os cuidados dos portugueses Monteiros, mas tinham de se virar sozinhos.
Quem via aqueles porcos sujos e peludos escarafunchando (cavando) o chão do Pantanal se assustava.
Não eram mais porcos de fundo de quintal. Viraram "selvagens", diziam.

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