São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 1996
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Loucuras de Maia

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Havia uma camisaria na rua Assembléia que promovia anualmente uma campanha publicitária intitulada "Loucuras de maio". Comemorando o aniversário da loja, os preços baixavam -o carioca esperava o mês de maio para renovar o enxoval de cama, corpo e mesa. Havia polícia na porta, todo mundo queria aproveitar as loucuras.
Para provar que de hora em hora Deus piora, as loucuras de maio ficaram na nostalgia da cidade. Temos hoje coisa bem pior -e criminosa: as loucuras do Maia. Uma loucura que, suplementarmente, tem muito de cabotinismo e exibicionismo.
O brasileiro de outros Estados dificilmente imaginará o que está se fazendo no Rio. A pretexto de embelezar uma cidade que não precisa disso, o prefeito esburacou as ruas e promoveu um festival de ignorância e mau gosto. A ignorância é óbvia: aumentou calçadas que já eram largas e diminuiu pistas de rolamento. Explica-se: as calçadas precisavam dar passagem aos cabos da Net.
Pior mesmo é o mau gosto. Maia contratou vitrinistas que entendem bulhufas de urbanismo e estética. Trocou materiais nobres (granitos e pedras portugueses) por sucedâneos que não resistem a um pingo de chuva e se desmancham. Calçadas dadas como prontas já apresentam crateras, estão mais esburacadas do que as antigas.
Só há uma explicação para tamanha ignorância: fazer um grupo faturar por conta do dinheiro que não é do Maia, é do contribuinte.
Numa cidade que enfrenta o colapso dos sistemas de saúde, segurança e educação, a gestão dele é mais um crime do que uma loucura. É também uma tolice.
Qualquer um que venha a suceder o atual prefeito terá -aí sim- como prioridade máxima, a obrigação de consertar o estrago que o atual bando de vitrinistas está causando à cidade. César Maia é um caso curioso: merece hospício e provavelmente polícia ao mesmo tempo.

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