São Paulo, sábado, 13 de abril de 1996
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Paranóia com inflação é contestada

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os debates no Senado norte-americano para confirmar ou não a indicação de Alan Greenspan para um novo mandato à frente do FED (Federal Reserve Bank, o Banco Central dos EUA) tendem a se transformar numa discussão sobre o que alguns economistas batizam de "paranóia antiinflacionária".
Traduzindo: cresce a reação, entre acadêmicos e meios de comunicação globais, contra o que a revista norte-americana "Newsweek" chamou de "medo irracional ao crescimento (econômico)".
Esse medo se reflete, concretamente, em políticas monetárias rígidas, a pretexto de manter as taxas de inflação sob controle, com uma sequela inevitável: baixo crescimento.
O mais forte impulso à crítica à "paranóia" vem do economista Lester Thurow, da Universidade de Harvard.
Seu livro "O futuro do capitalismo", que acaba de ser editado, defende a revisão das políticas monetárias de forma a estimular o crescimento.
Os números da economia norte-americana só reforçam a crítica de Thurow: nos anos 70, a economia crescia, em média, 4% ao ano, índice que baixou para 3% nos anos 80 e está em magros 2% no período já transcorrido dos 90.
Juros são recorde
Foi exatamente a partir da crise do petróleo (1973) que os bancos centrais passaram a adotar rígidas políticas monetárias para controlar ao máximo a inflação.
Consequência: os juros de longo prazo, que de fato indicam a expectativa do mercado sobre a inflação, são hoje três vezes mais elevados do que nos anos 50 e 60.
"Na prática, os juros de longo prazo, na maior parte dos anos 80 e 90, vêm sendo os mais altos da história", chega a dizer Robert Rowthorn, economista da Universidade de Cambridge.
Entre os que começam a questionar o modelo de política monetária estão duas das bíblias do mundo financeiro globalizado, a revista britânica "The Economist" e o jornal norte-americano "The Wall Street Journal".
O "Journal", relata a agência espanhola de notícias EFE, ouviu vários especialistas que concordam, no essencial, com as teses desenvolvidas por Thurow no seu livro mais recente.
OIT apóia
Concordam, por exemplo, em que as velhas idéias sobre política monetária não se adaptam à nova realidade mundial, marcada pela globalização da economia, o desaparecimento do comunismo, a mudança demográfica e a importância da nova indústria calcada na criatividade intelectual.
A tese é a de que o papel de contenção dos preços, no novo cenário mundial, será desempenhado mais pela competição globalizada e pela reorganização das empresas do que pelo custo do dinheiro.
É uma teoria já comprada por pelo menos uma agência internacional, a OIT (Organização Internacional do Trabalho, braço da Organização das Nações Unidas).
Em relatório preparado especialmente para a reunião do G-7 (o clube dos sete países mais ricos do mundo) que discutiu o problema do desemprego, realizada no início do mês, a Organização Internacional do Trabalho diz:
"No presente contexto de baixa inflação, insuficiência de investimento produtivo e um persistente estoque de desemprego, há espaço para expansão macroeconômica sem necessariamente criar pressões inflacionárias".
Viés equivocado
A tese tem adeptos também no Brasil.
"Os países desenvolvidos foram capturados por uma 'paranóia antiinflacionária', que implica um viés contracionista das políticas macroeconômicas", escreve Reinaldo Gonçalves, professor de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-economista da Unctad, agência da ONU para comércio e desenvolvimento.
O texto está no número mais recente da "Revista Brasileira de Comércio Exterior" e atribui a expressão "paranóia antiinflacionária" a Imaz Akyz, também economista da Unctad.
No âmbito político, o mais novo adepto da crítica a políticas monetárias rígidas é o senador democrata Tom Harkin.
É de Tom Harkin a idéia de que a sabatina para a esperada confirmação de Alan Greenspan à frente do Federal Reserve Bank se transforme em um debate em profundidade sobre as políticas monetárias hoje predominantes.

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