São Paulo, sábado, 13 de abril de 1996 |
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'O Lado Fatal' é 'tour de force' de Beatriz Segall
NELSON DE SÁ
Impossível, aliás, não se emocionar com a peça. As recordações, a admiração sem limites do amante morto, a sedução de uma saída pelo suicídio são interpretadas arrebatadamente por Beatriz Segall, no caminho penoso até a sujeição, até a serenidade. Em alguns momentos, o choro da personagem ultrapassa as medidas, daí um viés de melodrama romântico -mas ele era certamente inevitável, até uma decorrência do tema. Por outro lado, se repetem as imagens, o que certamente também era inevitável. O que poderia ter sido evitado -e o foi em espetáculo de estrutura semelhante, até com maior proximidade do recital, "Dona Doida", com Fernanda Montenegro- era o peso da mão do diretor, da encenação. Márcio Vianna, que morreu dois meses atrás, deixou no espetáculo, um monólogo de atriz, o que se costuma definir por "selo", ou ainda, "assinatura". Enquanto corre a ação predominantemente interior de Beatriz Segall e de sua personagem, a cenografia, as marcações, objetos de cena, os elementos externos todos como que buscam uma ação concorrente -agindo por vezes em prejuízo da interpretação e, sobretudo, do texto. Mesmo quando age em convergência, como no final da peça, quando sobe aos céus a escultura de um anjo, como o de "Angels in America", e a iluminação é tornada mais e mais clara, sinais de redescoberta da vida pela personagem, é algo que causa ruído, talvez pela obviedade. Mas Beatriz Segall -ainda que presa por demais à chamada quarta parede, ainda que tropeçando na "mise-en-scène" forçada da escultora, esforço gritante e talvez desnecessário de "teatralização"- faz o próprio "tour de force", neste monólogo. O seu envolvimento é tamanho, emocional e até mesmo físico, a sua disposição é tal, que ao final da apresentação a sensação é de aplaudir, não apenas uma artista, mas uma atleta. Texto Anterior: Elias brilha na estréia Próximo Texto: Deforges foge da decadência da cultura francesa Índice |
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