São Paulo, sábado, 13 de abril de 1996
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Elias brilha na estréia

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Palace não estava lotado, diferente do que se esperaria de uma noite de estréia do Heineken Concerts, em São Paulo. Porém, quem assistiu à apresentação do trio de Eliane Elias, anteontem, saiu dali certo de ter presenciado um dos melhores shows de 1996.
A pianista paulistana, radicada nos EUA desde a década passada, provou estar no auge da sua forma artística. O fato de não ter conseguido o prêmio Grammy de melhor solista de jazz, para o qual foi indicada há pouco, parece ter aumentado ainda mais sua garra.
Liderar um grupo formado pelo brilhante contrabaixista Marc Johnson e pelo virtuose da bateria Jack DeJohnette já é uma referência indiscutível. Principalmente em um universo musical que sempre foi dominado pelos homens.
O mais interessante é que a pianista brasileira não tenta se diferenciar somente pela sutileza de seu toque, o que, aliás, já foi feito por outras jazzistas.
Eliane enfrenta o desafio de tocar de igual para igual com os "jazzmen", sem receio de mergulhar nos improvisos mais frenéticos, em geral com um alto grau de intensidade sonora ou rítmica. Toca com "punch", com garra.
Foi exatamente isso que se ouviu durante os solos de "Chega de Saudade". O clássico de Tom Jobim, compositor infalível no repertório de Eliane, foi devidamente jazzificado pelo trio, em um dos momentos mais energéticos e aplaudidos da noite.
Como gosta de fazer em seus "sets", Eliane alternou conhecidos standards do jazz (como "Bye Bye Blackbird" e "Just One of Those Things") com clássicos da música popular brasileira, incluindo uma original versão de "Asa Branca", repleta de variações melódicas e contrastes rítmicos.
Preparou também um número especial, "The Time Is Now", que serviu de veículo para longos improvisos de Johnson, DeJohnette e outro convidado da noite: o percussionista Manolo Badrena.
Ao lado de DeJohnette, o porto-riquenho improvisou um dos momentos mais deliciosos do show: um diálogo rápido, explorando sons inusitados extraídos das peças de metal da bateria e dos instrumentos de percussão.
Agora só falta a Eliane aprender um pouco das técnicas de marketing de Fábio Barreto, que conseguiu transformar seu filme "O Quatrilho" em símbolo nacional. Se não, ironicamente, vai continuar sendo mais famosa nos EUA do que em seu próprio país.
Última noite
Dorival Caymmi, 82, é um dos convidados de hoje de Dori Caymmi, que traz ainda Gal Costa, Josee Koning, Abraham Laboriel, Claudio Slon e Ricardo Silveira.
No Rio, a noite é do grupo mineiro Uakti, que toca com Andy Summers (ex-guitarrista do Police), Milton Nascimento, Flávio Venturini e Lô Borges.
Em São Paulo, o show acontece às 21h30, no Palace (al. dos Jamaris, 213, tel. 011-531-4900), com ingressos entre R$ 35 e R$ 60.
No Rio, tem ínicio às 22h, no Canecão (av. Wenceslau Brás, 215, tel. 021-295-5439), com ingressos entre R$ 20 e R$ 60.

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