São Paulo, domingo, 14 de abril de 1996
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'Não tenho aonde ir quando sair da prisão'

LALO DE ALMEIDA; ROGERIO WASSERMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

A prisão de Dirce Teodoro da Silva, 24, vence daqui a três meses. "Quando eu sair, se for de noite, já peço um cobertor emprestado e durmo aqui mesmo na porta. Não tenho para onde ir", diz.
Dirce está presa na Penitenciária Feminina da Capital, no Carandiru (zona norte), onde cumpre pena por furto. "Quando sair, vou ter que me virar de algum jeito, dar meus pulos, porque não vou passar fome na rua. Ninguém vai dar emprego para mim assim logo de cara, saindo da prisão", diz.
Dirce nasceu em Presidente Prudente (558 km a oeste de SP) e veio para São Paulo aos 11 anos depois de ser internada na Febem pelo pai, que a estuprou quando ela tinha 9 anos. "Ele era alcoólatra, nunca prestou", disse.
Na época da internação, ela vivia com a irmã Maria Lurdes, dois anos mais velha, que nunca mais viu. "No dia em que o juiz veio nos buscar, ela fugiu", conta.
Dirce diz que depois do estupro, passou a ter "trauma de homem". "Homem só para ter amizade, do contrário é meu inimigo", diz.
Ainda assim, ela teve um filho no tempo em que estava na rua. T., 5, foi tirado de sua guarda quando tinha 2 anos e 6 meses. "Passei muito tempo tentando descobrir aonde ele estava, mas não quero mais saber. Ele deve estar melhor do que eu", afirma.
O pai do garoto, Marcos Antônio, morreu esfaqueado na avenida Alcântara Machado (zona leste), um dia depois de seu nascimento. Dirce afirma que ele foi o único homem com quem teve relações sexuais na vida.
Dirce culpa o pai por tudo o que passou. "Ele foi um fraco", diz. Ela afirma que ainda tem esperanças de um dia reencontrar a irmã. "Gostaria que ela estivesse bem, para me ajudar", diz.
(LALO DE ALMEIDA e ROGERIO WASSERMANN)

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